
Okinawa — InkDesign News — Novas pesquisas publicadas na Nature Ecology & Evolution revelam detalhes inéditos sobre as origens e o papel dos fungos nos antigos ecossistemas terrestres. Este estudo, conduzido por pesquisadores do Instituto de Ciência e Tecnologia de Okinawa (OIST) e colaboradores europeus, indica que os fungos se diversificaram centenas de milhões de anos antes do surgimento das plantas terrestres.
O Contexto da Pesquisa
A complexidade da vida multicelular evoluiu de forma independente em cinco grandes grupos: animais, plantas terrestres, fungos, algas vermelhas e algas marrons. Até então, a linha do tempo sobre o surgimento desses organismos era baseada, principalmente, no registro fóssil — mas os fungos sempre foram um enigma devido à dificuldade de sua fossilização, já que possuem corpos geralmente moles e filamentosos. Esse desafio impulsionou cientistas a buscar métodos inovadores para rastrear o passado evolutivo dos fungos.
“Complex multicellular life — organisms made of many cooperating cells with specialized jobs — evolved independently in five major groups: animals, land plants, fungi, red algae, and brown algae. […] Understanding when these groups emerged is fundamental to piecing together the history of life on Earth.”
(A vida multicelular complexa — organismos formados por muitas células cooperando e com funções especializadas — evoluiu de forma independente em cinco grandes grupos: animais, plantas terrestres, fungos, algas vermelhas e marrons. […] Compreender quando esses grupos surgiram é fundamental para reconstruir a história da vida na Terra.)— Professor Gergely J. Szöllősi, chefe da Unidade de Genômica Evolutiva Baseada em Modelos, OIST
Resultados e Metodologia
Com a escassez de fósseis, a equipe do OIST utilizou a “relógio molecular”, técnica que compara diferenças genéticas entre espécies para estimar datas de divergência evolutiva. Para calibrar este método em fungos, raras trocas horizontais de genes (HGT) entre linhagens foram empregadas como pontos de referência temporais. Assim, os pesquisadores identificaram 17 transferências genéticas que serviram como âncoras para reconstruir a cronologia dos fungos, alinhando-as com registros fósseis conhecidos de outros grupos.
A análise sugere que o ancestral comum dos fungos modernos data entre 1,4 e 0,9 bilhão de anos atrás, precedendo marcadamente o aparecimento das plantas terrestres.
“Fungi run ecosystems — recycling nutrients, partnering with other organisms, and sometimes causing disease. Pinning down their timeline shows fungi were diversifying long before plants, consistent with early partnerships with algae that likely helped pave the way for terrestrial ecosystems.”
(Os fungos controlam ecossistemas — reciclando nutrientes, estabelecendo parcerias com outros organismos e, por vezes, causando doenças. Precisar essa cronologia mostra que os fungos se diversificaram muito antes das plantas, compatível com parcerias precoces com algas que possivelmente pavimentaram o caminho para os ecossistemas terrestres.)— Dr. Lénárd L. Szánthó, co-primeiro autor do estudo, OIST
Implicações e Próximos Passos
A nova linha do tempo reposiciona os fungos como engenheiros primordiais dos ecossistemas terrestres, antecedendo as plantas e colaborando com algas para transformar ambientes rochosos em solos férteis. Essa fase preparatória pode ter sido crucial para viabilizar a colonização terrestre por plantas.
O estudo sugere um papel-chave para fungos em parcerias ecológicas precoces e no fluxo de nutrientes durante a formação dos primeiros ecossistemas terrestres. Avanços futuros dependem da descoberta de novas técnicas para detectar eventos de transferência horizontal de genes, além da exploração de fósseis ainda mais antigos, o que poderá refinar ainda mais o entendimento sobre a antiguidade e o impacto dos fungos.
O conhecimento sobre o passado evolutivo dos fungos não só reconfigura nossa visão da colonização terrestre, como também amplia horizontes para pesquisas sobre o papel dessas formas de vida em ecossistemas modernos e futuros.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)