
Brasília — InkDesign News — Uma análise publicada recentemente investiga a construção cultural das escolhas alimentares do café da manhã, revelando como campanhas de marketing, e não evidências científicas, moldaram a forma como americanos e outros povos do Ocidente enxergam a primeira refeição do dia. A pesquisa detalha, entre outros exemplos, a popularização dos tradicionais ovos, bacon e suco de laranja como ícones matinais nos Estados Unidos.
O Contexto da Pesquisa
O estudo ressalta que, embora haja crenças estabelecidas sobre o que constitui um “alimento de café da manhã”, não existem bases objetivas ou científicas para essas distinções. “Comidas de café da manhã são uma construção cultural”, afirma o artigo, destacando que diferentes países consomem alimentos variados logo cedo, desde arroz com peixe grelhado no Japão até feijão com pão frito no Reino Unido. A motivação para investigar a origem desses hábitos vem da percepção de que tradições gastronômicas matinais variam radicalmente conforme a cultura, ainda que muitos as considerem universais.
Resultados e Metodologia
A análise apresenta exemplos icônicos da influência do marketing. Nos EUA, a consolidação do bacon como símbolo do café da manhã é atribuída à atuação do publicitário Edward Bernays para uma companhia processadora de carne nos anos 1920. Ele promoveu pesquisas junto a médicos sobre os benefícios de refeições reforçadas, utilizando os resultados em campanhas que promoviam bacon e ovos, ainda que os dados não fossem diretamente conclusivos quanto ao consumo desses alimentos específicos.
“Ele usou essa pesquisa, que não mencionava bacon e não era exatamente científica, como base para uma série de anúncios alegando que bacon e ovos eram o verdadeiro café da manhã americano.”
(“He used this survey, which didn’t mention bacon and was not exactly scientific, as the basis for a series of ads claiming bacon and eggs is the true all-American breakfast.”)— Trecho do artigo original
Outro caso discutido é o do suco de laranja, promovido devido a um excedente de produção nos anos 1940. Publicidade voltada ao consumo matinal foi estratégica para incorporar a bebida à rotina americana. A indústria de cereais também contribuiu para disseminar a ideia de que o café da manhã seria “a refeição mais importante do dia”, conceito popularizado a partir de uma campanha de 1944 para o produto Grape Nuts.
“A ideia de que o café da manhã é a refeição mais importante do dia tem origem mais no marketing do que na ciência.”
(“The idea that breakfast is the most important meal of the day also has its origins more in marketing than science.”)— Trecho do artigo original
Implicações e Próximos Passos
Os dados reforçam o papel central da publicidade e dos interesses econômicos na definição de padrões alimentares culturais, mais do que qualquer consenso científico sobre necessidades nutricionais na primeira refeição diária. Esses resultados indicam que categorias alimentares como “café da manhã” devem ser avaliadas dentro de contextos culturais específicos, e não como verdades universais.
Especialistas sugerem que um debate mais profundo sobre escolhas alimentares pode desafiar conceitos estabelecidos há décadas. Estimular educação nutricional baseada em evidências pode, futuramente, auxiliar pessoas a fazer escolhas pautadas em necessidades individuais, e não apenas em tradições comerciais.
O próximo passo para o campo é investigar como campanhas atuais podem ainda estar influenciando novas gerações, não somente nos Estados Unidos, mas internacionalmente, conforme os hábitos alimentares se globalizam.
Fonte: (Popular Science – Ciência)