Estudo revela água antiga no asteroide Ryugu potencialmente perigoso

Tóquio — InkDesign News — Cientistas no Japão anunciaram, em setembro de 2024, uma descoberta que pode reescrever a história da origem da água no Sistema Solar: estudos envolvendo amostras do asteroide Ryugu indicam que água líquida já fluiu através de seu interior. A pesquisa, liderada por pesquisadores da Universidade de Tóquio, utilizou material trazido pela missão Hayabusa2 e aponta possíveis implicações para a compreensão de como a Terra adquiriu grande parte de sua água.
O Contexto da Pesquisa
A investigação sobre o asteroide Ryugu acontece em um momento de intensa busca por respostas sobre as origens da água em corpos celestes próximos à Terra. Ryugu, um asteroide C-type de aproximadamente 900 metros de diâmetro, foi visitado pela missão japonesa Hayabusa2 entre 2018 e 2019, que coletou amostras da superfície para análise detalhada em laboratórios terrestres. A missão, concluída com o retorno das amostras em dezembro de 2020, oferece uma janela inédita ao passado primitivo do Sistema Solar — especialmente relevante diante do consenso de que grande parte da água terrestre foi fornecida por impactos de asteroides e cometas nos primórdios da Terra.
Resultados e Metodologia
O novo estudo, publicado na revista Nature, concentrou-se na análise dos isótopos radioativos de lutécio (Lu) e háfnio (Hf) encontrados nas partículas de Ryugu. O grupo observou irregularidades químicas cuja única explicação viável é a passagem ancestral de água líquida pelo asteroide. Medições feitas com base na taxa de decaimento do Lu-176 para o Hf-176 mostraram uma concentração anômala deste último; isto sugere que o Lu-176 pode ter sido removido por ação da água logo após a formação do asteroide.
“We found that Ryugu preserved a pristine record of water activity.”
(“Descobrimos que Ryugu preservou um registro pristino da atividade de água.”)— Tsuyoshi Iizuka, geoquímico, Universidade de Tóquio
A hipótese mais provável para a existência de água líquida em Ryugu, segundo os autores, é o impacto em um corpo parental maior que teria derretido gelo subterrâneo, permitindo que o líquido percolasse por sua estrutura rochosa. A equipe planeja avanços nos estudos a partir da análise de veios de fosfato nas amostras, o que pode levar à determinação da idade da água identificada.
Implicações e Próximos Passos
Os achados sugerem que o corpo parental de Ryugu pode ter armazenado gelo por pelo menos um bilhão de anos após a formação do Sistema Solar — período muito superior ao suposto até então para a preservação de água em asteroides.
“This changes how we think about the long-term fate of water in asteroids. The water hung around for a long time and was not exhausted so quickly as thought.”
(“Isso muda como pensamos sobre o destino de longo prazo da água em asteroides. A água permaneceu por muito tempo e não foi esgotada tão rapidamente quanto se pensava.”)— Tsuyoshi Iizuka, geoquímico, Universidade de Tóquio
A pesquisa também destaca que asteroides como Ryugu podem ter tido papel substancialmente maior na entrega de água à Terra do que se imaginava, podendo chegar a triplicar as estimativas anteriores. Além disso, análises comparativas com amostras do asteroide Bennu, estudado pela missão OSIRIS-REx da NASA, poderão aprofundar a compreensão sobre as origens da água e das moléculas essenciais à vida em nosso planeta.
A perspectiva de encontrar registros de atividade aquosa em outros asteroides e as futuras análises de isótopos podem abrir novos caminhos para explicar não apenas a história da água no Sistema Solar, mas também a origem dos precursores da vida. A expansão dessas pesquisas pode influenciar desde a astrobiologia até estratégias tecnológicas para exploração de recursos em corpos celestes.
Fonte: (Live Science – Ciência)