
Nova Iorque — InkDesign News — Um estudo longitudinal conduzido em Cincinnati indica que vacinas contra o papilomavírus humano (HPV) podem reduzir drasticamente infecções causadoras de câncer do colo do útero, não apenas entre indivíduos vacinados, mas também em não vacinados — sugerindo um efeito robusto de imunidade coletiva. Publicado em 29 de setembro no periódico JAMA Pediatrics, o estudo analisou dados entre 2006 e 2023.
O Contexto da Pesquisa
As infecções por HPV são a infecção sexualmente transmissível mais comum no mundo, abrangendo cepas de baixo e alto risco. Aproximadamente 80% dos casos de câncer atribuídos ao HPV afetam o colo do útero, de acordo com estudo de 2020 publicado em The Lancet Global Health. Enquanto vacinas já mostravam elevada eficácia na prevenção de pré-câncer cervical e óbitos, a abrangência da proteção indireta permanecia menos documentada.
O estudo visou elucidar se a vacinação em massa proporcionaria proteção significativa até mesmo entre pessoas com múltiplos parceiros sexuais e histórico de outras infecções sexualmente transmissíveis, um grupo reconhecido como de alto risco para o HPV.
Resultados e Metodologia
Foram analisados dados de seis levantamentos epidemiológicos realizados em Cincinnati, envolvendo 2.335 jovens de 13 a 26 anos. O foco foi o impacto das três formulações vacinais: 2-valente (HPV 16 e 18), 4-valente (incluindo HPV 6 e 11) e 9-valente (com cinco tipos adicionais).
Ao longo do estudo, a taxa de vacinação subiu para 82% entre os participantes, refletindo uma queda de 98,4% nas infecções pelos tipos cobertos pela vacina 2-valente em vacinados. Para a vacina 4-valente, a redução foi de 94,2%, e, para a 9-valente, de 75,7%. Entre os não vacinados, as infecções por HPV 16 e 18 caíram 71,6%, evidenciando imunidade de rebanho.
A vacina 9-valente demonstrou proteção comparável às anteriores em ensaios clínicos, mas sua recente introdução resultou em menor parcela de participantes vacinados com essa versão.
(“The 9-valent vaccine was just as protective as the 2-valent and 4-valent vaccines in clinical trials, but … was licensed more recently, meaning fewer participants had received at least one dose of that version.”)
— Dr. Jessica Kahn, Professora de Pediatria, Albert Einstein College of Medicine
A diminuição das infecções entre não vacinados reforça a noção de que a imunização ampla pode cortar não apenas a transmissão direta, mas também prevenir casos em pessoas à margem dos programas de vacinação.
Implicações e Próximos Passos
Segundo dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde, apenas 31% das meninas e 8% dos meninos entre 9 e 14 anos ao redor do mundo receberam ao menos uma dose da vacina; a cobertura é substancialmente menor em países de baixa renda, onde as taxas de câncer cervical permanecem elevadas.
Ao expandir a cobertura vacinal e garantir acesso ao rastreio e tratamento, é possível alcançar uma das maiores vitórias em saúde pública: eliminar o câncer de colo do útero no mundo.
(“By expanding uptake of this highly safe and effective vaccine, and ensuring access to screening and treatment, we can achieve one of the greatest public health victories of our time: the elimination of cervical cancer worldwide.”)
— Dr. Jessica Kahn, Professora de Pediatria, Albert Einstein College of Medicine
A pesquisa destaca a necessidade de políticas globais para ampliação do acesso à vacinação. O impacto social e econômico advindo de campanhas universais contra o HPV pode moldar o futuro do combate a diversos tipos de câncer associados ao vírus, além de reduzir desigualdades em saúde pública.
À medida que aumentam taxas de imunização em contextos globais, especialistas antecipam curtas décadas para uma queda expressiva dos casos de câncer de colo uterino e outras neoplasias associadas ao HPV. Entretanto, desafios persistem: a ampliação do acesso, a educação sobre vacinação e a manutenção de redes de rastreamento permanecem cruciais para consolidar este avanço.
Fonte: (Live Science – Ciência)