
Londres — InkDesign News — Pesquisadores da Universidade de Bristol revelaram, em um estudo publicado na revista Science, que formigas são capazes de modificar a arquitetura de seus ninhos em resposta à exposição a patógenos, reduzindo, assim, a transmissão de doenças em suas colônias. A descoberta sugere uma surpreendente convergência de estratégias entre humanos e insetos para mitigar epidemias.
O Contexto da Pesquisa
A pandemia de COVID-19 trouxe à tona a necessidade de reorganização de espaços humanos para conter a disseminação de doenças, com o uso de barreiras físicas e distanciamento social. Estudos prévios já sugeriam que a modificação de comportamentos é comum em primatas próximos ao homem, como chimpanzés e bonobos. Agora, pela primeira vez, pesquisadores identificam que pequenos insetos sociais, como formigas, também ajustam seu ambiente físico com objetivo de defesa coletiva contra patógenos.
Resultados e Metodologia
O experimento liderado pelo pesquisador Luke Leckie, do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade de Bristol, envolveu grupos de 180 formigas cada, inseridos em recipientes de solo para construção de ninhos durante um dia. Após esse período, os cientistas introduziram mais 20 formigas em cada grupo, sendo que metade delas havia sido exposta a patógenos, especificamente esporos fúngicos. A análise da estrutura dos ninhos foi feita por meio de microtomografia computadorizada (micro-CT), permitindo visualizações em 3D ao longo de seis dias, acompanhando o crescimento e as alterações estruturais dos ninhos.
O estudo revelou que
“os ninhos escavados pelos grupos expostos ao patógeno eram mais modulares, com rotas de deslocamento mais longas, entradas mais espaçadas e menos conexões diretas entre as câmaras. Essas mudanças são todas previstas para reduzir a transmissão de patógenos”
(“the nests dug by pathogen-exposed ant groups were more modular, had longer travel routes, had entrances spaced further apart, and had fewer direct connections between chambers. These changes are all predicted to reduce pathogen transmission”)— Luke Leckie, Pesquisador em Ciências Biológicas, Universidade de Bristol
. Simulações computacionais confirmaram que tais ajustes arquitetônicos diminuem o potencial de dispersão dos patógenos. Além do redesenho físico, foi evidenciado que formigas expostas tendem a se isolar no interior do ninho, e que essa combinação aumenta ainda mais a eficácia do controle da transmissão.
Implicações e Próximos Passos
A constatação de que formigas empregam recursos arquitetônicos aliados ao comportamento social para mitigar epidemias sugere mecanismos evolutivos compartilhados entre diferentes espécies sociais. Conforme Leckie aponta,
“existe uma sinergia entre defesas arquitetônicas e sociais para lutar contra a transmissão de patógenos em formigas”
(“there is a synergy between architectural and social defenses to fight pathogen transmission in ants”)— Luke Leckie, Pesquisador em Ciências Biológicas, Universidade de Bristol
. Os pesquisadores acreditam que as formigas só adotam essas estratégias em situações específicas de ameaça, já que precisam equilibrar o isolamento com a eficiência na transferência de recursos.
A pesquisa abre caminho para investigações futuras sobre a adaptação de sociedades animais diante de desafios epidêmicos. Especialistas sugerem que a compreensão desses mecanismos pode inspirar novas soluções para o controle de doenças em ambientes humanos densamente povoados, explorando sinergias entre arquitetura e comportamento social.
Diante dessas descobertas, o campo de estudo sobre imunidade coletiva e engenharia de espaços sociais ganha novos horizontes. As próximas etapas podem envolver a análise de outras espécies e a pesquisa sobre aplicações práticas nas áreas de arquitetura e saúde pública.
Fonte: (Popular Science – Ciência)