
Jerusalém — InkDesign News — Uma nova análise liderada por um especialista em saúde pública da Universidade Hebraica de Jerusalém revela que a finasterida, um dos principais medicamentos usados mundialmente para combater a calvície, tem sido associada a casos de depressão e suicídio há mais de vinte anos. A pesquisa, que avalia registros de efeitos adversos e dados de saúde de diversos países, aponta para uma relação consistente entre o uso do fármaco e efeitos psiquiátricos graves, levantando críticas à postura da indústria farmacêutica e das agências reguladoras.
O Contexto da Pesquisa
A finasterida, aprovada pela FDA em 1997 para tratar a calvície masculina, foi receitada a milhões de homens interessados em reverter ou desacelerar a queda de cabelo. No entanto, desde 2002, especialistas vêm alertando sobre potenciais riscos psiquiátricos ligados ao medicamento, incluindo episódios de depressão, ansiedade e suicídio. Mesmo diante desses alertas, tanto a farmacêutica desenvolvedora do produto quanto órgãos reguladores globais demoraram a adotar medidas preventivas.
Resultados e Metodologia
O estudo, coordenado pelo Prof. Mayer Brezis, professor emérito de medicina e saúde pública da Universidade Hebraica, analisou dados de oito estudos robustos publicados entre 2017 e 2023, além de registros nacionais do FDA e de sistemas de saúde da Suécia, Canadá e Israel. Os resultados indicam que usuários de finasterida apresentam probabilidade significativamente maior de desenvolver distúrbios de humor e pensamentos suicidas em comparação à população geral.
“As evidências deixaram de ser apenas relatos individuais”
(“The evidence is no longer anecdotal”)— Prof. Mayer Brezis, Universidade Hebraica de Jerusalém
Relatórios sugerem que centenas de milhares de pacientes podem ter sofrido de depressão relacionada à finasterida, enquanto centenas — talvez mais — tiveram desfecho fatal. Apesar da atualização do rótulo pela FDA em 2011 (para incluir depressão) e da menção a pensamentos suicidas em 2022, registros internos e petições mostram uma reação tardia diante de estimativas bem maiores de impacto real. Nenhuma das investigações aprofundadas foi iniciada pela farmacêutica Merck ou por autoridades reguladoras, o que demonstra uma lacuna na vigilância pós-aprovação.
“Não se tratou apenas de subnotificação. Foi uma falha sistêmica de farmacovigilância.”
(“It wasn’t just underreporting. It was a systemic failure of pharmacovigilance.”)— Prof. Mayer Brezis, Universidade Hebraica de Jerusalém
O mecanismo de ação, ao bloquear a conversão de testosterona em DHT, pode também interferir nos neuroesteroides cerebrais envolvidos na regulação do humor, como o alopregnanolona. Pesquisas em animais apontam alterações neuroinflamatórias e estruturais no cérebro.
Implicações e Próximos Passos
Professor Brezis defende reformas imediatas nos protocolos de aprovação e monitoramento de medicamentos, sugerindo a suspensão da comercialização da finasterida para finalidades estéticas até que os riscos à saúde mental sejam totalmente esclarecidos. Entre as recomendações, estão estudos obrigatórios após a aprovação e documentação sistematizada do histórico medicamentoso em investigações de suicídio.
“Para muitos, essas mudanças chegam tarde demais. O estudo é dedicado a um homem saudável que buscou a finasterida apenas para melhorar o cabelo. Dias após iniciar o tratamento, entrou em grave sofrimento psiquiátrico e, meses depois, tirou a própria vida.”
(“For many, those changes come too late. The paper is dedicated to one such individual—a previously healthy man who took finasteride ‘just’ to improve his hair. Within days, he spiraled into severe psychiatric distress. He never recovered. Months later, he took his own life.”)— Prof. Mayer Brezis, Universidade Hebraica de Jerusalém
A análise lança luz sobre falhas de regulação e abre caminho para que decisões futuras, tanto em política pública quanto na prescrição médica, priorizem a segurança do paciente acima de interesses cosméticos e mercadológicos. O debate sobre a segurança de medicamentos não essenciais tende a ganhar força, com impactos previstos para todo o setor farmacêutico internacional.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)