
Davis, Califórnia — InkDesign News —
Uma pesquisa conduzida pela Universidade da Califórnia, Davis, publicada nesta semana no The American Journal of Geriatric Psychiatry, acompanhou mais de 13 mil adultos por até 15 anos e identificou que ter um senso de propósito pode reduzir significativamente o risco de desenvolver demência, mesmo em populações geneticamente predispostas.
O Contexto da Pesquisa
Descobertas relacionadas às “Zonas Azuis” — regiões do mundo conhecidas por concentrarem pessoas longevas — já sugeriam que o propósito de vida contribui para a longevidade. O novo estudo direcionou o foco para o impacto desse fator sobre a cognição em idosos. Fatores como genética (presença do gene APOE4), educação e sintomas de depressão foram considerados para avaliar se o senso de propósito funciona de forma independente como proteção contra o declínio cognitivo.
Resultados e Metodologia
A equipe de pesquisadores utilizou dados do Health and Retirement Study, um amplo levantamento nacional financiado pelo National Institute on Aging, envolvendo adultos com saúde cognitiva normal no início do estudo. O senso de propósito foi aferido por meio de um questionário validado de sete itens, com respostas variando de “concordo totalmente” a “discordo totalmente”. Os participantes também eram submetidos a testes cognitivos bienais por telefone ao longo do acompanhamento.
O resultado foi uma redução de aproximadamente 28% no risco de comprometimento cognitivo — englobando desde formas leves até a demência — entre aqueles que declararam sentir maior propósito existencial. O efeito protetor foi observado em diversos grupos étnicos e raciais. Além disso, mesmo ao serem considerados idade, escolaridade, sintomas depressivos e a presença do gene APOE4, o vínculo entre propósito e menor incidência de demência se manteve.
A média para o adiamento do declínio cognitivo foi de 1,4 meses a cada oito anos, resultado considerado modesto, porém relevante frente às limitações e custos de medicamentos atualmente disponíveis.
“Our findings show that having a sense of purpose helps the brain stay resilient with age.”
(“Nossas descobertas mostram que ter senso de propósito ajuda o cérebro a permanecer resiliente com o passar dos anos.”)— Aliza Wingo, Professora, UC Davis Department of Psychiatry and Behavioral Sciences
Entre as atividades associadas ao propósito de vida em pesquisas anteriores destacam-se relações familiares, trabalho/voluntariado, espiritualidade, metas pessoais e ajuda ao próximo.
Implicações e Próximos Passos
Apesar dos resultados promissores, os autores ressaltam que a relação é de associação, não de causalidade comprovada. Ainda assim, as evidências sugerem um novo enfoque para políticas públicas e intervenções destinadas ao envelhecimento saudável, ampliando o conceito de prevenção de doenças neurodegenerativas para além dos fatores biológicos e medicamentosos.
“Purpose in life is free, safe and accessible. It’s something people can build through relationships, goals and meaningful activities.”
(“Propósito de vida é gratuito, seguro e acessível. É algo que as pessoas podem construir por meio de relações, metas e atividades significativas.”)— Nicholas C. Howard, Pesquisador em Saúde Pública, UC Davis
O professor e neurologista Thomas Wingo, coautor do estudo, espera que intervenções voltadas ao fortalecimento do propósito sejam testadas em futuras pesquisas para prevenção efetiva da demência em idosos. Ele afirma:
“What’s exciting about this study is that people may be able to ‘think’ themselves into better health. Purpose in life is something we can nurture. It’s never too early — or too late — to start thinking about what gives your life meaning.”
(“O mais animador nesse estudo é que as pessoas podem conseguir ‘pensar’ seu caminho para uma saúde melhor. Propósito na vida é algo que cultivamos. Nunca é cedo ou tarde demais para refletir sobre o que dá sentido à sua vida.”)— Thomas Wingo, Professor e Neurologista, UC Davis Health
Os próximos anos deverão trazer ensaios clínicos rigorosos para avaliar se intervenções de “construção de propósito” podem de fato modificar o curso do envelhecimento cerebral. Novas políticas de saúde, práticas de bem-estar e abordagens interdisciplinares podem resultar desse novo campo promissor de pesquisa, ampliando estratégias preventivas para doenças como o Alzheimer.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)