
Londres — InkDesign News — Um estudo internacional publicado na Journal of Geophysical Research: Solid Earth revelou que a extração descontrolada de água subterrânea no Irã levou à subsidência de grandes áreas do país entre 2014 e 2022, afetando cerca de 650 mil pessoas e colocando cidades como Teerã e Rafsanjan entre os epicentros mundiais do fenômeno.
O Contexto da Pesquisa
Nos últimos anos, a escassez hídrica tem se agravado no Irã, país onde aproximadamente 60% da água consumida pela população provém de aquíferos subterrâneos. Episódios de seca prolongada e o uso intensivo de recursos hídricos no setor agrícola já preocupavam autoridades e cientistas. O estudo, liderado por Jessica Payne, doutoranda na School of Earth and Environment da Universidade de Leeds, no Reino Unido, buscou mapear, via satélites da Agência Espacial Europeia (ESA), o rebaixamento do solo associado à retirada excessiva de água subterrânea.
Resultados e Metodologia
Usando dados de radar do satélite Sentinel-1 para o período de 2014 a 2022, os pesquisadores identificaram 106 regiões afetadas pela subsidência, totalizando 31.400 quilômetros quadrados – área equivalente ao estado de Maryland, nos EUA. Destacam-se áreas como Rafsanjan, onde o solo chegou a afundar 34 centímetros por ano, impulsionado pelo clima seco e pela expansão de plantações de pistache. Payne ressalta:
“Os índices de subsidência no Irã estão entre os mais rápidos do mundo. Encontramos cerca de 100 locais onde o solo afunda mais de 10 milímetros por ano. Na Europa, casos acima de 5 a 8 milímetros já são considerados extremos.”
(“The rates of subsidence in Iran are some of the fastest in the world,” Payne told Live Science. “We found about 100 sites across Iran where subsidence is faster than about 10 millimeters [0.4 inches] a year. In Europe, case studies are considered extreme if they exceed 5 to 8 millimeters [0.2 to 0.3 inches] a year.”)— Jessica Payne, pesquisadora, Universidade de Leeds
A extração ostensiva de água subterrânea para irrigação esteve correlacionada a 77% dos casos de subsidência acelerada identificados. Em algumas regiões, o solo baixou até 13 pés em uma década. O risco de colapso estrutural de casas, estradas e ferrovias cresce, sobretudo em cidades como Karaj e Mashhad.
“A conclusão mais marcante do artigo é que a maior parte da subsidência relacionada à água subterrânea no Irã é irreversível, o que evidencia a gravidade do esgotamento dos aquíferos.”
(“The paper’s most striking conclusion is that most of Iran’s groundwater-related subsidence is irreversible, which underscores the severity of aquifer depletion.”)— Manoochehr Shirzaei, pesquisador ambiental
Implicações e Próximos Passos
Os estudiosos observam que, diferentemente de represas, a compactação dos aquíferos sedimentares não se reverte, mesmo com a reposição hídrica – o solo sofre subsidência permanente. Além dos prejuízos à infraestrutura, a perda de volume dos aquíferos reduz a capacidade de estocagem de água doce, agravando a insegurança hídrica durante períodos de seca e diminuindo a resiliência frente às mudanças climáticas.
O cenário iraniano reflete uma tendência observada em metrópoles de México, Itália, China e Estados Unidos, onde subsidências ameaçam redes urbanas e agrícolas e já causaram desastres, como o colapso de uma linha de metrô na Cidade do México em 2021.
O estudo destaca que políticas para controlar a extração e promover a recarga artificial dos aquíferos são urgentes. Programas de monitoramento e adaptação agrícola também devem ser priorizados para aumentar a segurança alimentar e hídrica da população.
Em meio à intensificação global dos fenômenos extremos, pesquisadores sugerem que o Irã serve de alerta para outros países com exploração intensiva dos recursos subterrâneos e recomendam colaboração internacional para o desenvolvimento de soluções sustentáveis.
Fonte: (Live Science – Ciência)