
College Station, Texas — InkDesign News — Pesquisadores do Texas A&M University Health Science Center revelaram uma descoberta inédita sobre o câncer renal raro e agressivo, principalmente em crianças e jovens. O estudo, publicado na Nature Communications em outubro de 2025, detalha mecanismos celulares que aceleram a progressão tumoral e apresenta uma estratégia inovadora para bloquear esse processo.
O Contexto da Pesquisa
O carcinoma de células renais por translocação (tRCC) é responsável por aproximadamente 30% dos casos de câncer renal em crianças e adolescentes. Essa doença, associada a más perspectivas de tratamento, é provocada por oncofusões TFE3 — genes híbridos formados por quebras e fusões cromossômicas atípicas. Até recentemente, os mecanismos moleculares que tornam o tRCC especialmente agressivo não eram completamente compreendidos, dificultando o desenvolvimento de terapias eficazes.
Resultados e Metodologia
O estudo da Texas A&M identificou a formação de “hubs” moleculares líquidos no núcleo de células de tRCC, impulsionados pelo sequestro do RNA — tradicionalmente conhecido apenas como transportador de informações genéticas. Esses “gotículas” moleculares concentram componentes essenciais e ativam genes relacionados ao crescimento tumoral. Além disso, o grupo identificou a proteína PSPC1, que estabiliza esses agregados, potencializando a agressividade cancerígena.
Para elucidar o funcionamento dessa maquinaria, foram aplicadas ferramentas avançadas de biologia molecular, incluindo edição gênica CRISPR — para rastrear proteínas de fusão em células tumorais —, SLAM-seq — para analisar quais genes são ativados com a formação dos agregados —, CUT&Tag e RIP-seq — mapeando a interação dos genes com DNA e RNA —, e proteômica, que identificou a participação de PSPC1.
Os pesquisadores desenvolveram ainda uma ferramenta quimiogenética baseada em nanocorpos: fragmentos de anticorpos associados a uma proteína solubilizadora. Ao serem ativados quimicamente, dissolvem os “hubs” moleculares, interrompendo o crescimento tumoral tanto em células cultivadas quanto em modelos animais.
“RNA itself is not just a passive messenger, but an active player that helps build these condensates.”
(“O próprio RNA não é apenas um mensageiro passivo, mas um agente ativo na formação desses condensados.”)— Yun Huang, PhD, Professor, Texas A&M Health Institute of Biosciences and Technology
“Targeting condensate formation gives us a brand-new angle to attack the cancer, one that traditional drugs have not addressed. It opens the door to therapies that are much more precise and potentially less toxic.”
(“Atacar a formação dos condensados nos dá um novo ângulo de combate ao câncer, que fármacos tradicionais não contemplam. Isso abre caminho para terapias mais precisas e possivelmente menos tóxicas.”)— Yubin Zhou, MD, PhD, Diretor do Centro de Pesquisa Translacional em Câncer
Implicações e Próximos Passos
As descobertas não apenas elucidam como proteínas de fusão TFE3 e RNA remodelam o funcionamento nuclear em tumores pediátricos, como apontam potenciais alvos vulneráveis a intervenções terapêuticas inovadoras. O princípio de dissolução dos condensados poderia ser ampliado para outros cânceres impulsionados por fusões gênicas, ampliando consideravelmente o impacto destes dados em oncologia.
“By mapping how these fusion proteins interact with RNA and other cellular partners, we are not only explaining why this cancer is so aggressive but also revealing weak spots that can be therapeutically exploited.”
(“Ao mapear como essas proteínas de fusão interagem com RNA e outros parceiros celulares, estamos não apenas explicando por que esse câncer é tão agressivo, mas também revelando pontos fracos a serem explorados terapeuticamente.”)— Lei Guo, PhD, Professor assistente, Instituto de Biociências e Tecnologia
O estudo sinaliza uma mudança de paradigma para terapias de câncer pediátrico, sugerindo uma via para tratamentos mais direcionados e menos tóxicos. Próximos passos incluem testes clínicos e adaptação da tecnologia para outros tipos de tumores guiados por fusões proteicas.
Em um cenário de escassez terapêutica e altas taxas de mortalidade, a possibilidade de “desligar” os motores do câncer ao desfazer seus hubs moleculares representa nova esperança para pacientes jovens e um avanço científico crucial, refletindo o poder da pesquisa básica em mudar perspectivas clínicas.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)