
Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), Querétaro — InkDesign News — Em um avanço inédito para a paleogenômica em latitudes tropicais, pesquisadores conseguiram sequenciar o DNA antigo do mamute colombiano (Mammuthus columbi), espécie endêmica da América do Norte e Central. O estudo — publicado no periódico Science em 28 de agosto — revelou diferenças genéticas inesperadas entre os mamutes mexicanos e seus parentes do norte, lançando novas dúvidas sobre os caminhos evolutivos dessa megafauna extinta.
O Contexto da Pesquisa
As pesquisas sobre os mamutes colombianos, que atingiam cerca de quatro metros de altura e conviveram e se cruzaram com os mamutes-lanosos (Mammuthus primigenius), sempre esbarraram em lacunas sobre o processo evolutivo desses animais nas Américas. A escavação iniciada em 2019 durante as obras do Aeroporto Internacional Felipe Ángeles, em Santa Lucía, México, trouxe à tona mais de cem fósseis de mamutes colombianos da era Pleistocênica, um achado que impulsionou a equipe da UNAM a buscar ADN preservado — um desafio maior em climas quentes devido à degradação acelerada do material genético.
Resultados e Metodologia
Foram sequenciados 61 genomas mitocondriais a partir de 83 molares, com amostras datadas por radiocarbono entre 13 mil e 16 mil anos. O resultado, segundo o paleogenomicista Federico Sánchez-Quinto, foi surpreendente: os mamutes colombianos do México apresentaram sequências genéticas significativamente diferentes dos espécimes dos Estados Unidos e Canadá — mesmo sendo considerados a mesma espécie.
“A ancestral comum dos mamutes mexicanos já era um híbrido dos mamutes-da-estepe e mamutes-lanosos de Beringia”, explicou. “À medida que seus descendentes migravam para o sul, podem ter se isolado dos demais, gerando essa singularidade genética.”
(“[She] was already a hybrid of the steppe mammoths and the woolly mammoths from Beringia… As her descendants bred and migrated southward, they may have been isolated from other North American mammoths, which could explain that genetic uniqueness.”)— Eduardo Arrieta-Donato, Pesquisador, UNAM
Além disso, o trabalho validou que é possível extrair DNA de fósseis tropicais do Pleistoceno, contrariando a expectativa predominante entre cientistas de que tais amostras estariam sempre degradadas demais para análises genômicas.
“É uma façanha recuperar DNA de amostras tão degradadas”, declarou o geneticista evolutivo Love Dalén, do Centro de Paleogenética da Universidade de Estocolmo, que não participou no estudo. “É um feito mamutesco obter DNA de amostras tropicais do Pleistoceno Tardio!”
(“It is a mammoth feat to get DNA from tropical Late Pleistocene samples!”)— Love Dalén, Professor, Universidade de Estocolmo
Implicações e Próximos Passos
A pesquisa sugere que a evolução do mamute colombiano foi mais complexa que o estimado, e que o México concentra diversidade genética não registrada em outras regiões. Descobertas semelhantes vêm surgindo com outras espécies do Pleistoceno mexicano, como ursos-negros e mastodontes, indicando um padrão de diversificação genética ao sul da América do Norte.
Os autores destacam ainda a importância de laboratórios locais equipados no “Sul Global” para avançar em estudos genômicos, ressaltando que o progresso depende mais de recursos do que de capacidade técnica.
Apesar de levantar novas e intrigantes questões, a pesquisa demanda agora a obtenção de mais amostras de DNA de distintas localidades, ampliando o rastreio histórico da biodiversidade tropical.
O estudo inaugura uma nova perspectiva sobre a história evolutiva das megafaunas americanas e reforça a necessidade de aprofundar as investigações sobre processos genéticos em ambientes tropicais.
Fonte: (Live Science – Ciência)