
Pittsburgh — InkDesign News — Uma revisão publicada na revista American Psychologist revela que aplicativos de meditação, como Calm e Headspace, já somam mais de 300 milhões de downloads e estão mudando significativamente o acesso, oferta e pesquisa sobre práticas meditativas. O estudo, liderado por J. David Creswell, do Departamento de Psicologia e Neurociências da Universidade Carnegie Mellon, destaca que mesmo períodos breves de uso apresentam benefícios mensuráveis para a saúde mental.
O Contexto da Pesquisa
A crescente popularização das práticas meditativas encontra nos aplicativos digitais um canal de distribuição inédito, atingindo pessoas em contextos antes desassistidos. O artigo de Creswell apontou que aplicativos de meditação respondem por 96% dos usuários de apps de saúde mental. Este cenário representa uma ruptura no antigo modelo, tradicionalmente centrado em sessões presenciais longas e grupos específicos, tornando a meditação acessível 24 horas, inclusive em localidades rurais ou remotas.
“Você pode imaginar um agricultor em uma região rural de Nebraska não tendo muitas oportunidades disponíveis para frequentar programas tradicionais de meditação em grupo, e agora ele tem um aplicativo no bolso disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana.”
(“You can imagine a farmer in rural Nebraska not having many available opportunities to go to traditional group-based meditation programs, and now they have an app in their pocket which is available 24/7.”)— J. David Creswell, Professor de Psicologia e Neurociências, Universidade Carnegie Mellon
Resultados e Metodologia
Segundo o levantamento, estudos recentes demonstram que de 10 a 21 minutos de sessões em aplicativos, três vezes por semana, já produzem resultados positivos, como reduções nos sintomas de depressão, ansiedade, estresse e insônia. O acesso facilitado e a natureza sob demanda dessas plataformas permitem que usuários realizem práticas curtas, por exemplo, enquanto aguardam na fila de um café, adaptando o treinamento às suas rotinas.
Além disso, a integração com dispositivos como Fitbit e Apple Watch amplia o potencial dos aplicativos ao incorporar dados biométricos, aprofundando a personalização e análise científica de padrões de comportamento e saúde. Creswell destaca que a natureza escalável dos apps também está revolucionando a pesquisa, permitindo estudos em populações muito maiores, de escala global.
“Historicamente, eu poderia trazer 300 pacientes com síndrome do intestino irritável para meu laboratório, mas agora penso em como aproveitar a capacidade dos aplicativos de meditação e sensores de saúde para estudar 30.000 pacientes em todo o mundo.”
(“Historically, I might bring 300 irritable bowel syndrome patients into my lab and study the impacts of meditation on pain management. But now I’m thinking, how do we harness the capacity of meditation apps and wearable health sensors to study 30,000 irritable bowel syndrome patients across the world?”)— J. David Creswell, Professor de Psicologia e Neurociências, Universidade Carnegie Mellon
Implicações e Próximos Passos
A pesquisa ressalta o enorme potencial dessas ferramentas para aliviar sintomas de sofrimento mental em uma época caracterizada por altos índices de estresse e solidão. Todavia, o principal desafio é a baixa adesão dos usuários: 95% das pessoas deixam de usar os aplicativos após 30 dias. Soluções inteligentes para engajamento, como sistemas de gamificação implementados por apps como o Duolingo, são mencionadas como possíveis caminhos a serem explorados pelo setor.
O futuro deve ser marcado por inteligência artificial e chatbots personalizados, aumentando a eficácia e a personalização das práticas. A expectativa é que, mesmo que nunca substituam integralmente os grupos presenciais ou instrutores tradicionais, os aplicativos sirvam como porta de entrada fundamental para a prática da meditação e gestão da saúde mental.
Especialistas consideram fundamental estabelecer estratégias para manter o interesse dos usuários e ampliar a coleta de dados que, associados a biomarcadores, possam orientar recomendações cada vez mais precisas e individualizadas. O panorama atual sinaliza uma reconfiguração nas bases da pesquisa, oferta e acesso à meditação, com promissoras perspectivas na integração entre tecnologia e ciência do bem-estar.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)