
Viena — InkDesign News — Pesquisadores do Boston Medical Center analisaram mais de quatro milhões de prontuários eletrônicos e identificaram que o uso de cannabis está associado a um risco quase quatro vezes maior de desenvolver diabetes, segundo estudo apresentado no Encontro Anual da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes (EASD), realizado em Viena, Áustria, entre 15 e 19 de setembro.
O Contexto da Pesquisa
O consumo de cannabis cresce mundialmente e, em 2021, aproximadamente 219 milhões de adultos relataram o uso da substância, representando 4,3% da população global. Apesar de algumas pesquisas indicarem possíveis efeitos anti-inflamatórios ou de controle de peso, persistem dúvidas sobre os impactos metabólicos a longo prazo. Estudos prévios já haviam sugerido uma ligação entre a cannabis e alterações no metabolismo da glicose e resistência à insulina, mas a dimensão do risco permanecia incerta.
Resultados e Metodologia
Para elucidar a relação entre cannabis e diabetes, a equipe liderada pelo Dr. Ibrahim Kamel acessou dados de 54 instituições de saúde dos Estados Unidos e Europa, filtrando o histórico de 96.795 adultos (18-50 anos) com diagnóstico relacionado ao uso de cannabis, entre 2010 e 2018. Esses indivíduos foram pareados com mais de quatro milhões de pessoas sem histórico de uso de substâncias ou doenças crônicas, acompanhadas por cinco anos.
Após ajustes para fatores como colesterol, pressão arterial elevada, doenças cardiovasculares, consumo de álcool e cocaína, os pesquisadores observaram incidência significativamente maior de novos casos de diabetes no grupo usuário de cannabis (2,2%) em comparação ao grupo controle (0,6%). A análise estatística evidenciou que usuários de cannabis apresentaram quase quatro vezes mais risco de desenvolver diabetes em relação aos não usuários.
Apesar do vínculo identificado, os autores enfatizam limitações metodológicas: o estudo é retrospectivo e não comprova causalidade. Além disso, fatores não mensurados podem ter influenciado os resultados, devido à ausência de dados detalhados sobre o padrão de consumo e potenciais inconsistências nos registros médicos.
“À medida que a cannabis se torna mais acessível e socialmente aceita, compreender seus potenciais riscos à saúde é essencial”
(“As cannabis becomes more widely available and socially accepted, and legalized in various jurisdictions, it is essential to understand its potential health risks”)— Dr. Ibrahim Kamel, Boston Medical Center
Implicações e Próximos Passos
O estudo destaca a necessidade imediata de incorporar o monitoramento metabólico nas práticas clínicas para usuários de cannabis, sobretudo diante da expansão da legalização e aceitabilidade social. Os pesquisadores apontam que a associação pode estar relacionada à resistência à insulina e hábitos alimentares pouco saudáveis, mas reforçam a importância de novas investigações, principalmente sobre os efeitos endócrinos de longo prazo.
“Estas novas evidências de mundo real ressaltam a importância de integrar a conscientização sobre o risco de diabetes em tratamentos e aconselhamentos para uso de substâncias”
(“These new sights from reliable real-world evidence highlight the importance of integrating diabetes risk awareness into substance use disorder treatment and counseling”)— Dr. Ibrahim Kamel, Boston Medical Center
Segundo a equipe, faltam pesquisas que diferenciem os riscos conforme a via de consumo (inalada ou comestível), bem como estudos prospectivos que possam examinar com maior precisão a relação causal entre cannabis e diabetes. Existem limitações reconhecidas devido à auto-reportagem, possível subnotificação e dificuldade na quantificação exata do uso em regiões onde a cannabis é ilegal.
Se novos estudos confirmarem o risco aumentado, as recomendações para acompanhamento metabólico e estratégias de educação em saúde podem se intensificar, trazendo consequências tanto para políticas públicas quanto para práticas clínicas em todo o mundo. Saiba mais sobre avanços nesta área em nossa seção de ciência.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)