Estudo aponta que riscos da queda de nascimentos nos EUA são superestimados

Washington — InkDesign News — Pesquisadores estadunidenses analisam as preocupações crescentes sobre a queda das taxas de natalidade nos EUA, ressaltando que o temor de um colapso populacional imediato carece de evidências robustas. O estudo, publicado em junho de 2024, explora dados demográficos e economia para avaliar as reais consequências da reduzida fertilidade sobre a sociedade norte-americana.
O Contexto da Pesquisa
O debate recente sobre a diminuição das taxas de natalidade, conhecido como pronatalismo, ganhou destaque entre formuladores de políticas, empresários do Vale do Silício e o governo dos EUA. O argumento central defende que uma menor taxa de fertilidade traria graves riscos econômicos, como escassez de trabalhadores e peso excessivo sobre a população ativa. Entretanto, especialistas em demografia contestam a narrativa do colapso populacional iminente, apontando que as projeções mais recentes não sustentam essas conclusões alarmistas.
A narrativa do colapso populacional se baseia em três equívocos principais: interpreta mal o que as medidas padrão de fertilidade revelam, exagera o impacto das baixas taxas de natalidade no crescimento populacional futuro e ignora o papel das políticas econômicas nas consequências da redução da natalidade.
(“The population collapse narrative hinges on three key misunderstandings. First, it misrepresents what standard fertility measures tell us about childbearing…”)— Leslie Root, Demógrafa, Universidade do Colorado
Resultados e Metodologia
O estudo esclarece que o principal indicador demográfico, a taxa de fertilidade total, não representa necessariamente o número final de filhos por mulher, uma vez que as pessoas têm adiado cada vez mais a maternidade. Historicamente, as taxas de fertilidade nos EUA oscilaram consideravelmente: de dois filhos por mulher nos anos 1930, saltando para 3,7 em 1960, e caindo novamente para patamares em torno de dois filhos a partir dos anos 1990. Em 2024, a taxa chegou ao menor valor já registrado (1,6), principalmente devido à queda nos nascimentos entre adolescentes e adultos jovens.
Apesar disso, ao olhar para mulheres de 40 a 44 anos, o número médio de filhos permanece estável — próximo de dois por mulher ao longo das últimas décadas. Pesquisas também mostram que a maioria dos americanos ainda expressa o desejo de ter ao menos dois filhos, mas fatores como o alto custo de criação de crianças e a incerteza econômica impedem que esse desejo se realize.
Não parece ser o caso de que as taxas de natalidade sejam baixas porque as pessoas perderam o interesse em ter filhos; o problema é que muitos não consideram viável atingir seus objetivos reprodutivos.
(“it doesn’t seem to be the case that birth rates are low because people are uninterested in having children; rather, it’s because they don’t feel it’s feasible for them to become parents…”)— Melanie Clark, Socióloga, McGill University
Implicações e Próximos Passos
As previsões oficiais não apontam para uma queda dramática da população americana. O mais recente relatório das Nações Unidas projeta crescimento populacional para os EUA até 2100 — influenciado, também, por fluxos migratórios. Economistas envolvidos frisam que o impacto do envelhecimento não é necessariamente uma crise: o aumento da participação laboral entre idosos e a diminuição do número de crianças dependentes contribuem para o equilíbrio. Políticas de incentivo à natalidade podem trazer efeitos colaterais, como possível redução da participação feminina na força de trabalho e aumento dos custos de serviços públicos.
Diversos estudos sublinham que políticas econômicas e a capacidade de adaptação do mercado de trabalho — inclusive com automação e inteligência artificial — são mais determinantes que o simples aumento da natalidade. A imigração surge como estratégia imediata para suprir necessidades do mercado de trabalho e manter o dinamismo demográfico.
A discussão, segundo os especialistas, ganhará novos contornos à medida que tecnologias e políticas públicas evoluírem. Investimentos em educação e reformas econômicas poderão ser decisivos nos próximos anos para garantir a sustentabilidade social e econômica dos EUA perante novas realidades demográficas.
Fonte: (Live Science – Ciência)