Estudo analisa impacto das redes sociais no pensamento coletivo

Brasília — InkDesign News — Uma revisão publicada em maio de 2025 na revista Frontiers in Communication revela como teorias conspiratórias e crenças incorretas se espalham em escala global, impulsionadas por limitações cognitivas individuais, influência de grupos e o alcance das redes sociais. O estudo examina casos como os ataques a torres 5G durante a pandemia e propõe que tais comportamentos emergem de processos complexos e interligados.
O Contexto da Pesquisa
Nos primeiros meses da pandemia de COVID-19, uma teoria conspiratória ligando o vírus à tecnologia 5G circulou massivamente nas redes sociais, culminando em mais de cem incidentes de incêndios e vandalismo contra infraestruturas de telecomunicação no Reino Unido e ameaças a trabalhadores do setor. O fenômeno serviu de ponto de partida para a pesquisa, que buscou entender como ideias sem embasamento científico se propagam tão rapidamente. Segundo o artigo, a propagação de tais crenças decorre de limitações cognitivas humanas como viés de confirmação e tendências herdadas da evolução para enxergar padrões maliciosos em eventos complexos.
“A raiz do pensamento falho está em nossa evolução. Nossa capacidade de lidar com informações complexas é limitada, então o cérebro busca atalhos […] como o viés de confirmação — a tendência de perceber apenas o que corrobora crenças prévias e ignorar o que discorda.”
(“The root cause of poor thinking lies in our evolution. Our ability to cope with complex information is limited, so our brains take shortcuts, such as confirmation bias — the tendency to notice things that match our preexisting beliefs and ignore those that don’t.”)— Pesquisa publicada em Frontiers in Communication
Resultados e Metodologia
Os autores analisaram como comportamentos coletivos surgem espontaneamente por meio da interação entre falhas cognitivas individuais e dinâmicas de grupo, acentuadas por redes digitais. Conceitos como ignorância pluralística, pensamento de grupo (groupthink) e polarização foram identificados como efeitos emergentes: pessoas evitam discordar por segurança social, criando um ambiente fértil para a disseminação de ideias extremas. A pesquisa também detalha como as redes sociais potencializam essa dinâmica, conectando indivíduos com visões extremadas e promovendo rápida ampliação de falsas crenças.
“A verdade não consegue competir com mentiras. Mensagens enganosas podem ser planejadas para seduzir audiências explorando preconceitos cognitivos conhecidos.”
(“The truth can’t compete with lies. Deceptive messages can be designed to seduce audiences by exploiting known cognitive biases.”)— Artigo em Frontiers in Communication
A disseminação de informações falsas segue padrões semelhantes aos modelos epidemiológicos usados em medicina, com “superespalhadores” influentes propagando conteúdo duvidoso. O estudo sugere ações baseadas em três eixos: suprimir a fonte, limitar a difusão e aumentar a imunidade da população exposta, por meio de bloqueio de criadores, filtragem de conteúdo e educação midiática.
Implicações e Próximos Passos
O trabalho aponta que não há solução simples para o desafio das crenças falsas nas redes — um possível “conflito permanente” entre criadores de desinformação e defensores da verdade. Barreiras como a liberdade de expressão e o uso diversificado de plataformas tornam a erradicação do problema improvável. O estudo recomenda que comunidades que decidam confrontar o fenômeno invistam em estratégias contínuas de contenção, enquanto aquelas que optem por não agir estarão suscetíveis ao aumento da discórdia e à paralisia social.
O desafio permanece em equilibrar liberdade de expressão e combate à desinformação, com ações estruturadas e investimento permanente em educação e tecnologia de detecção de conteúdo falso. O futuro deste campo dependerá da habilidade dos sistemas sociais em adaptar-se a um ambiente informacional cada vez mais complexo e interconectado.
Fonte: (Live Science – Ciência)