
Londres — InkDesign News — Pesquisadores estão cada vez mais próximos de cultivar minúsculos cérebros humanos em laboratório, ampliando o debate ético sobre o bem-estar desses tecidos. Um artigo publicado no periódico Patterns sugere que avanços recentes podem em breve possibilitar a criação de organoides cerebrais conscientes.
O Contexto da Pesquisa
Cientistas há anos desenvolvem “organoides cerebrais”: pequenos agrupamentos de tecido neural derivados de células-tronco. Apesar de sua semelhança anatômica com partes do cérebro embrionário, presumia-se que sua simplicidade impediria qualquer forma de consciência, o que levou a regulamentações permissivas na pesquisa. No entanto, especialistas começam a questionar esse pressuposto, frente ao progresso tecnológico acelerado.
“Sentimos que, diante do medo de exageros inspirados por ficção científica, o pêndulo balançou longe demais na direção oposta.”
(“We feel that in the fear of hype and science-fiction inspired exaggeration, the pendulum has swung far too far in the opposite direction.”)— Christopher Wood, Pesquisador em Bioética, Universidade de Zhejiang
Resultados e Metodologia
Atualmente, organoides cerebrais possuem uma organização estrutural limitada, muitas vezes restringindo-se a um único tipo de tecido cerebral com diâmetro inferior a 4 milímetros. A consciência, segundo grande parte dos neurocientistas, exige a comunicação entre diferentes regiões cerebrais, característica ausente nos organoides atuais. Ainda assim, estudos recentes evidenciam avanços: já foi possível incorporar vasos sanguíneos, células microgliais e até barreiras hematoencefálicas nesses modelos, além de criar “assembloides”, que representam múltiplas regiões cerebrais.
“Se um organoide possuir arquitetura neural interna necessária para representar dor, então nenhum sinal externo seria exigido.”
(“if an organoid has the internal neural architecture necessary for representing pain, then no external signal would be required.”)— Boyd Lomax, Neurocientista, Universidade Johns Hopkins
No entanto, a medição objetiva da consciência permanece um desafio até mesmo em seres humanos. Técnicas como análise da complexidade dos sinais neuronais frente a estímulos já demonstraram limitações; padrões similares podem surgir até mesmo em neurônios isolados em placas.
Implicações e Próximos Passos
O progresso na criação de organoides mais sofisticados levanta questões éticas inéditas. Atualmente, diretrizes como as da International Society for Stem Cell Research (ISSCR) afirmam que esses tecidos não percebem dor; entretanto, especialistas ouvidos defendem a revisão das normas diante dos avanços recentes.
“O bem-estar do organoide consciente, uma vez produzido, precisa ser considerado, pois ele se torna uma entidade moralmente relevante.”
(“The welfare of the conscious organoid, once it is produced, needs to be taken into account, as it has become a morally relevant entity with interests.”)— Christopher Wood, Pesquisador em Bioética, Universidade de Zhejiang
Enquanto parte dos especialistas defende equiparação à regulamentação sobre pesquisa animal, outros argumentam que a obtenção de consciência não deveria impedir experimentos, desde que respeitado o bem-estar dos organoides.
No horizonte, laboratórios buscam definir critérios objetivos para aferir consciência e garantir protocolos que antecipem possíveis consequências éticas. Avaliar de modo seguro a presença de consciência nesses tecidos artificiais será central para balizar o avanço responsável do campo, exigindo diálogo interdisciplinar e atualização constante das normas internacionais.
Fonte: (Live Science – Ciência)