
Jena, Alemanha — InkDesign News — Arqueólogos identificaram na Arábia Saudita um conjunto de gravuras monumentais de animais, datadas de cerca de 12 mil anos, resultado de uma pesquisa publicada nesta terça-feira (30 de setembro) no periódico Nature Communications. As representações, especialmente de camelos em tamanho real, reconfiguram o entendimento sobre a presença humana no norte da Península Arábica, apontando ocupação muito anterior ao que se supunha.
O Contexto da Pesquisa
Até recentemente, acreditava-se que a região do deserto do Nafud, no norte da Arábia Saudita, havia sido abandonada por milhares de anos devido ao clima árido, inviabilizando a sobrevivência humana após o fim do Último Máximo Glacial, há cerca de 20 mil anos. Estudos prévios apontavam a Península Arábica como importante rota migratória entre África e Ásia, especialmente nos chamados “episódios úmidos” documentados em pesquisas arqueológicas e paleoclimáticas. No entanto, evidências diretas da presença humana entre 20 e 10 mil anos atrás permaneciam ausentes.
O cenário começou a mudar quando arqueólogos receberam relatos de arte rupestre monumental em três sítios recentemente localizados por pesquisadores e arqueólogos amadores. Ao explorarem as formações rochosas, a equipe de Maria Guagnin, do Instituto Max Planck de Geoantropologia na Alemanha, encontrou painéis de gravuras próximas a antigas fontes de água, o que sugeriu uma interação humana mais precoce e sofisticada com o ambiente desértico.
Resultados e Metodologia
Durante as escavações, os pesquisadores registraram 62 painéis contendo 176 gravações — a maioria representando animais de tamanho natural, especialmente camelos machos. As escavações revelaram ainda artefatos como ferramentas de pedra, fragmentos ósseos e fogueiras. A datação foi realizada por meio de dois métodos: luminescência (que determina o último momento em que os sedimentos foram expostos à luz solar) e radiocarbono. O resultado: as gravuras remontam a 12.800 a 11.400 anos atrás, anterior ao fim do período glacial.
No local, foi localizado um instrumento de pedra associado diretamente às gravuras, com datação indireta de aproximadamente 12.200 anos. Entre os achados estavam pontas de flechas, lamelas e contas de pedra, artefatos culturalmente próximos à cultura Natufiana do Levante, indicando contatos inter-regionais com a bacia do Mediterrâneo.
“Humans were able to survive in the desert very early on, much earlier than we thought and in much harsher conditions than we thought.”
(“Os humanos conseguiram sobreviver no deserto muito antes do que pensávamos e em condições muito mais adversas do que supúnhamos.”)— Maria Guagnin, Arqueóloga, Instituto Max Planck de Geoantropologia
Outro destaque metodológico esteve na identificação dos camelos representados: machos em comportamento típico da estação de acasalamento, sugerindo que as fontes de água provavelmente se formavam durante o inverno, conforme detalhado pelos autores.
Implicações e Próximos Passos
A descoberta amplia o entendimento sobre ocupação humana e resiliência em ambientes áridos e reforça a ideia de uma paisagem interconectada na Arábia em tempos pré-históricos. O estudo indica também que a arte rupestre pode ter servido tanto para marcar rotas e fontes de água em meio ao deserto quanto como elementos de identidade cultural de grupos humanos.
“Some things are imported but then some things are unique.”
(“Algumas coisas são importadas, mas outras são únicas.”)— Michael Petraglia, Arqueólogo, Griffith University
Especialistas consideram o trabalho inovador para o entendimento do processo de ocupação humana da Arábia, ressaltando que “toda a região era habitada e que, mesmo naquele período, era uma paisagem interligada”.
No horizonte, a expectativa é de que novas prospecções arqueológicas revelem ainda mais conexões culturais e adaptação humana em diferentes ciclos climáticos do passado árabe, orientando tanto o mapeamento de rotas antigas quanto o conhecimento sobre adaptações ambientais extremas.
Fonte: (Live Science – Ciência)