
São Paulo — InkDesign News — Avanços recentes em biotecnologia exploram a edição genética para recriar características de espécies extintas, como o lobo-dire. A empresa Colossal tenta reverter o processo evolutivo ao modificar geneticamente lobos cinzentos para expressar traços do lobo-dire, buscando entender diferenças genéticas e suas implicações para saúde animal e biotecnologia.
Contexto científico
O lobo-dire, uma espécie extinta há milhares de anos, tem sido objeto de estudo para elucidar sua posição dentro da família Canidae. Estudos genéticos recentes indicam que, apesar de serem mais próximos aos lobos cinzentos do que aos chacais, suas sequências de DNA apresentam mais de 99,9% de similaridade com ambos. Pesquisadores do MIT Technology Review relatam que o ponto de divergência evolutiva ocorreu há cerca de 4 a 5 milhões de anos. A Colossal, empresa de biotecnologia, investiga variantes genéticas específicas associadas ao lobo-dire, visando compreender quais genes conferem suas características únicas, com a intenção de aplicá-las em lobos cinzentos vivos.
Metodologia e resultados
Utilizando a técnica de edição genética base editing, uma forma avançada de CRISPR, a Colossal realizou modificações em células sanguíneas de lobos cinzentos mantidos em laboratório. O foco das modificações foram “enhancers genéticos”, regiões do DNA que regulam a expressão gênica e influenciam características físicas como tamanho e formato do crânio e das orelhas.
“Todas as edições usando informações do lobo-dire antigo foram feitas em ‘genetic enhancers’, bits de DNA que ajudam a controlar a intensidade da expressão gênica. Esses podem influenciar o crescimento dos animais, bem como a forma de orelhas, rostos e crânios. Essa tática não é tão drástica quanto intervir diretamente no meio de um gene, o que mudaria a proteína produzida, mas é menos arriscado — mais como ajustar botões em um rádio do que cortar fios e substituir circuitos.”
(“All the edits using information from the ancient dire wolf were made to ‘genetic enhancers,’ bits of DNA that help control how strongly certain genes are expressed. These can influence how big animals grow, as well as affecting the shape of their ears, faces, and skulls. This tactic was not as dramatic as intervening right in the middle of a gene, which would change what protein is made. But it was less risky—more like turning knobs on an unfamiliar radio than cutting wires and replacing circuits.”)— Shapiro, Pesquisador Colossal
Para inserir a característica visual mais icônica, a pelagem branca, a empresa optou por desabilitar dois genes ligados à pigmentação, uma abordagem baseada em evidências de que a ausência dessas atividades gera pelagem clara em cães e outras espécies. Entretanto, especialistas divergem sobre a fidelidade dessa característica, considerando o contexto ambiental da espécie.
Implicações clínicas
Embora as alterações genéticas promovam uma aparência parcial do lobo-dire, pesquisadores destacam que o número de mutações feitas é insuficiente para replicar a espécie completamente. Segundo Bergström, “
“Duvido que 20 mudanças sejam suficientes para transformar um lobo-cinzento em um lobo-dire. Provavelmente seriam necessárias centenas ou milhares de alterações — ninguém sabe ao certo.”
(“I doubt that 20 changes are enough to turn a gray wolf to a dire wolf. You’d probably need hundreds or thousands of changes—no one really knows.”)— Bergström, Biólogo Evolutivo
Adicionalmente, o impacto comportamental desses genes permanece desconhecido, dificultando prever se esses lobos geneticamente editados manifestariam comportamentos similares aos ancestrais. As técnicas empregadas, embora avançadas, evidenciam a complexidade da biologia evolutiva e o desafio de reproduzir espécies por meio da engenharia genética.
O empreendimento da Colossal coloca em evidência as possibilidades e limitações atuais da biotecnologia aplicada à conservação genética e à saúde animal, abrindo caminho para pesquisas futuras que possam aprofundar a compreensão das diferenças genômicas e seus efeitos fenotípicos.
Fonte: (MIT Technology Review – Biotecnologia e Saúde)