
Nova York — InkDesign News — Cientistas do NYU Pain Research Center identificaram, em estudo publicado em setembro de 2025 na revista Nature Communications, qual receptor de prostaglandinas — substâncias alvo dos principais analgésicos — é responsável pela dor, mas não pela inflamação. A pesquisa, realizada na Universidade de Nova York, pode permitir o desenvolvimento de medicamentos mais seletivos para dor, com menos efeitos adversos.
O Contexto da Pesquisa
Os anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs), como ibuprofeno e aspirina, são amplamente utilizados no mundo, estimando-se 30 bilhões de doses anuais apenas nos Estados Unidos. Apesar de eficazes, a utilização prolongada desses medicamentos traz riscos relevantes, incluindo danos ao estômago, maior risco de sangramento e problemas cardiovasculares, renais e hepáticos. Os AINEs atuam bloqueando enzimas produtoras de prostaglandinas, reduzindo inflamação e dor. Entretanto, como ressaltam os cientistas, a inflamação, frequentemente vista como vilã, possui papel protetor e reparador.
“Inflammation can be good for you — it repairs and restores normal function.”
(“A inflamação pode ser benéfica — ela repara e restaura a função normal.”)— Pierangelo Geppetti, Professor Adjunto, NYU Pain Research Center; Professor Emérito, Universidade de Florença
Resultados e Metodologia
Os pesquisadores concentraram-se no papel da prostaglandina E2 (PGE2), reconhecida por mediar a dor inflamatória em células de Schwann — células do sistema nervoso periférico ligadas ao surgimento de enxaquecas e outras formas de dor. A PGE2 possui quatro receptores possíveis. Estudos anteriores destacavam o receptor EP4 como principal mediador da dor inflamatória. No novo estudo, porém, silenciando seletivamente o receptor EP2 nessas células por meio de fármacos locais, a resposta de dor em camundongos foi abolida, sem afetar a inflamação.
“To our great surprise, blocking the EP2 receptor in Schwann cells abolished prostaglandin-mediated pain but the inflammation took its normal course. We effectively decoupled the inflammation from the pain.”
(“Para nossa grande surpresa, o bloqueio do receptor EP2 em células de Schwann aboliu a dor mediada por prostaglandina, mas a inflamação seguiu seu curso normal. Desacoplamos, efetivamente, a inflamação da dor.”)— Pierangelo Geppetti, Professor Adjunto, NYU Pain Research Center
Estudos adicionais em células humanas e murinas confirmaram que a ativação do EP2 sustenta a dor sem interferir nas respostas inflamatórias, validando a hipótese dos autores.
Implicações e Próximos Passos
Ao isolar o papel do EP2 na dor, os pesquisadores vislumbram novos fármacos capazes de bloquear apenas o que causa incômodo, preservando a inflamação benéfica à recuperação. De acordo com Nigel Bunnett, presidente do Departamento de Patobiologia Molecular da NYU, tal estratégia pode evitar efeitos adversos comuns dos AINEs:
“Antagonism of this ‘druggable’ receptor would thus control pain without the adverse effects of NSAIDs.”
(“O antagonismo deste receptor ‘druggable’ controlaria a dor sem os efeitos adversos dos AINEs.”)— Nigel Bunnett, Professor e Chair, NYU College of Dentistry
Estão em andamento pesquisas pré-clínicas para aplicações em dores de condições como artrite. Testes futuros focarão na segurança de antagonistas seletivos do EP2, especialmente para administração sistêmica; abordagens localizadas, como em articulações do joelho, parecem promissoras.
As descobertas, financiadas por agências como National Institutes of Health (NIH) e European Research Council, podem resultar em alternativas mais seguras aos AINEs, repercutindo na rotina médica e farmacêutica. Novas etapas avaliarão tanto a eficácia como possíveis efeitos colaterais, trazendo esperança para o manejo da dor sem os riscos hoje prevalentes.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)