Cientistas identificam circuito cerebral ligado ao vício, revela estudo

La Jolla, Califórnia — InkDesign News — Uma equipe da Scripps Research revelou, em estudo publicado em 5 de agosto de 2025 na Biological Psychiatry: Global Open Science, como uma pequena região cerebral está relacionada à persistência do consumo de álcool motivada pela evitação do sofrimento da abstinência. A descoberta pode iluminar novos caminhos para tratamentos de transtornos por uso de substâncias e distúrbios de ansiedade.
O Contexto da Pesquisa
Estima-se que 14,5 milhões de pessoas nos Estados Unidos sofram de transtorno por uso de álcool, caracterizado por ciclos de abstinência, recaída e retorno ao consumo. Estudos anteriores apontam que, com o tempo, o consumo deixa de buscar prazer e passa a ser motivado pela necessidade de evitar estados negativos, como o estresse decorrente da abstinência.
De acordo com os cientistas, o desafio do tratamento reside no padrão de aprendizado do cérebro, que “tranca” a associação entre o uso da substância e o alívio temporário de estados negativos. Isso é conhecido como reforço negativo.
Resultados e Metodologia
A pesquisa concentrou-se em ratos, cujos cérebros foram analisados detalhadamente após ciclos de abstinência e recaída. Utilizando ferramentas avançadas de imagem, os pesquisadores identificaram que o núcleo paraventricular do tálamo (PVT) exibia atividade aumentada nos animais que aprenderam a relacionar o álcool ao alívio dos sintomas de abstinência.
O efeito foi observado especialmente no grupo de ratos condicionados sob reforço negativo, em comparação a três grupos controle.
“O que torna o vício tão difícil de quebrar é que as pessoas não estão simplesmente buscando um barato. Elas também estão tentando se livrar de estados negativos poderosos, como o estresse e a ansiedade da abstinência. Este trabalho nos mostra quais sistemas cerebrais são responsáveis por consolidar esse tipo de aprendizado, e por que essa recaída pode ser tão persistente.”
(“What makes addiction so hard to break is that people aren’t simply chasing a high. They’re also trying to get rid of powerful negative states, like the stress and anxiety of withdrawal. This work shows us which brain systems are responsible for locking in that kind of learning, and why it can make relapse so persistent.”)— Friedbert Weiss, professor de neurociência, Scripps Research
Implicações e Próximos Passos
Os resultados sugerem que o PVT está intimamente envolvido na manutenção de comportamentos aditivos via associação de contextos ambientais ao alívio do sofrimento. Além do álcool, o estudo aponta para a relevância desse circuito cerebral em outros distúrbios, como ansiedade e aprendizado traumático por evitação.
O próximo passo será ampliar a pesquisa para fêmeas e investigar quais neuroquímicos são liberados no PVT em situações de alívio do estado hedônico negativo, podendo futuramente identificar alvos moleculares para terapias inovadoras. Segundo os autores, a compreensão desse mecanismo pode ser paradigmática para o tratamento de múltiplos transtornos baseados em reforço negativo.
“Quando ratos aprendem a associar estímulos ambientais ao alívio, eles demonstram um impulso incrivelmente forte para buscar o álcool, mesmo quando é necessário grande esforço ou quando esse comportamento é punido.”
(“When rats learn to associate environmental stimuli or contexts with the experience of relief, they end up with an incredibly powerful urge to seek alcohol in the presence of that stimuli -even if conditions are introduced that require great effort to engage in alcohol seeking.”)— Friedbert Weiss, Scripps Research
O avanço representa uma mudança fundamental na compreensão da dependência química, evidenciando o papel do cérebro em associar o consumo de substâncias com o alívio do sofrimento psicológico. Estudos futuros podem abrir portas para novas abordagens terapêuticas não apenas em dependência química, mas em outros quadros psiquiátricos baseados em ciclos dolorosos de evitação.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)