
San Diego — InkDesign News — Uma pesquisa liderada pelo Scripps Institution of Oceanography, da Universidade da Califórnia em San Diego, revelou que barris no fundo do oceano, ao largo da costa de Los Angeles, continham resíduos cáusticos alcalinos e não resíduos de DDT, como se supunha. O estudo, publicado em setembro de 2024, mostra que esses resíduos criaram ambientes extremos no leito marinho ao longo de mais de meio século.
O Contexto da Pesquisa
Por décadas, imagens dos barris corroídos e cercados por halos esbranquiçados emergiram como símbolo de uma herança tóxica no sul da Califórnia. De acordo com a EPA, entre as décadas de 1930 e 1970, 14 áreas profundas do litoral da Califórnia foram usadas para despejo de resíduos industriais, químicos, refinaria de petróleo e até material radioativo. Estudos anteriores haviam associado o local principalmente à contaminação por DDT, pesticida banido em 1972 devido aos riscos à saúde humana e à fauna. No entanto, pouco se sabia sobre o conteúdo específico dos milhares de barris encontrados.
Resultados e Metodologia
Pesquisadores embarcados no Research Vessel Falkor, do Schmidt Ocean Institute, coletaram em 2021 amostras de sedimentos ao redor de cinco barris, três deles com halos brancos. Ao analisar essas amostras, foi constatado um pH extremamente alto, em torno de 12, indicando presença de resíduos alcalinos. A crosta formada ao redor dos barris revelou-se composta principalmente pelo mineral brucita, resultado de reações entre o resíduo e o magnésio da água do mar, criando uma camada semelhante a concreto.
O estudo observou que a biodiversidade microbiana e de pequenos animais era drasticamente reduzida na região próxima aos barris, com prevalência de bactérias típicas de ambientes extremos.
“Um dos principais resíduos do processo de produção de DDT era ácido, e eles não colocaram isso nos barris. Isso nos faz pensar: o que poderia ser pior do que resíduos ácidos de DDT para ser destinado às barricas?”
(“One of the main waste streams from DDT production was acid and they didn’t put that into barrels. It makes you wonder: What was worse than DDT acid waste to deserve being put into barrels?”)— Johanna Gutleben, Pós-doutoranda, Scripps Institution of Oceanography
“É chocante que mais de 50 anos depois ainda se observem esses efeitos. Não conseguimos quantificar o impacto ambiental sem saber quantos desses barris existem, mas é claro que há um efeito localizado sobre os microrganismos.”
(“It’s shocking that 50-plus years later you’re still seeing these effects. We can’t quantify the environmental impact without knowing how many of these barrels with white halos are out there, but it’s clearly having a localized impact on microbes.”)— Paul Jensen, Microbiologista marinho emérito, Scripps Institution of Oceanography
Implicações e Próximos Passos
A persistência dos resíduos alcalinos posiciona-os ao lado do DDT como poluentes ambientais duradouros. O reconhecimento visual dos halos brancos pode servir como ferramenta para identificar contaminação alcalina no fundo oceânico da região de Catalina. Segundo os autores, antes buscava-se quase exclusivamente vestígios de DDT; agora, o foco deve se expandir para outros tipos de resíduos.
Os próximos estudos envolvem testagem de sedimentos contaminados por DDT para encontrar microrganismos capazes de degradar o pesticida. A remoção física desses sedimentos, contudo, seria inviável e poderia agravar a dispersão dos poluentes.
“As maiores concentrações de DDT estão enterradas a cerca de 4 a 5 centímetros abaixo da superfície — relativamente contidas. Succionar isso criaria uma grande pluma de sedimento e dispersaria a contaminação.”
(“The highest concentrations of DDT are buried around 4 or 5 centimeters below the surface — so it’s kind of contained. If you tried to suction that up you would create a huge sediment plume and stir that contamination into the water column.”)— Paul Jensen, Microbiologista marinho emérito, Scripps Institution of Oceanography
A descoberta ressalta a fragmentação do conhecimento sobre o que realmente foi descartado em mar aberto nas décadas passadas e a urgente necessidade de novas buscas sistemáticas. O futuro da remediação pode depender das capacidades microbianas para degradar contaminantes persistentes, enquanto a extensão dos danos segue sendo investigada.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)