Cientistas criam embriões a partir de células da pele em estudo

Portland, Oregon — InkDesign News — Uma equipe de cientistas da Universidade de Ciências e Saúde do Oregon (OHSU) anunciou, em 30 de setembro, um avanço significativo na área da biotecnologia reprodutiva: pela primeira vez, óvulos humanos foram criados em laboratório a partir de células de pele, utilizando técnicas similares às empregadas na clonagem da ovelha Dolly, e posteriormente fertilizados in vitro, originando embriões. O estudo foi publicado na revista Nature Communications.
O Contexto da Pesquisa
A criação de gametas humanos funcionais em laboratório vem sendo um foco de intensa investigação nos últimos anos, especialmente devido ao potencial impacto em tratamentos de infertilidade e possibilidades para casais homoafetivos terem filhos geneticamente relacionados. Pesquisas prévias já haviam reportado resultados promissores em modelos animais, como ratos, mas a transposição desses avanços para células humanas enfrentava barreiras técnicas e éticas substanciais. Segundo os pesquisadores, a técnica desenvolvida pode “oferecer esperança a milhões de pessoas com infertilidade devido à ausência de óvulos ou espermatozoides” e viabilizar que “casais do mesmo sexo tenham um filho geneticamente relacionado a ambos os parceiros”.
Em adição a oferecer esperança para milhões de pessoas com infertilidade devido à falta de óvulos ou espermatozoides, esse método permitiria a possibilidade de casais do mesmo sexo terem um filho geneticamente relacionado a ambos os parceiros.
(“In addition to offering hope for millions of people with infertility due to lack of eggs or sperm, this method would allow for the possibility of same-sex couples to have a child genetically related to both partners.”)— Paula Amato, Professora, Departamento de Obstetrícia e Ginecologia, OHSU
Resultados e Metodologia
O experimento piloto envolveu a retirada do núcleo de um óvulo humano e sua substituição pelo núcleo de uma célula da pele, um processo conhecido como transferência nuclear de célula somática — mesma técnica usada para clonar a ovelha Dolly. Para transformar essas células híbridas em óvulos funcionais, os cientistas induziram uma divisão cromossômica que reduz o número de cromossomos à metade, mimetizando o processo natural de formação dos gametas.
Foram produzidos 82 óvulos que em seguida passaram por fertilização in vitro. Apenas cerca de 9% progrediram até o estágio de blastocisto — esfera oca de células potencialmente apta à implantação uterina. O baixo índice de sucesso foi atribuído a anomalias cromossômicas e falhas na reprogramação genética das células de pele, o que levou muitos embriões a pararem de se dividir prematuramente. Nenhum dos blastocistos foi desenvolvido além deste ponto devido ao alto índice de aberrações cromossômicas detectado, tornando-os inviáveis para uso clínico.
No momento, a técnica “é muito ineficiente e de alto risco para aplicação imediata em clínicas”.
(“is too inefficient and high risk to apply immediately to clinical application.”)— Katsuhiko Hayashi, Pesquisador de células-tronco, Universidade de Osaka
Implicações e Próximos Passos
A pesquisa permanece, por ora, uma prova de conceito, com ampla necessidade de refinamento até viabilizar aplicações clínicas seguras e eficazes. Entre os próximos desafios, os autores destacam o aprimoramento do controle sobre as etapas de redução e aparelhamento de cromossomos, visando replica-las com maior precisão ao processo reprodutivo natural. Paralelamente, debatem-se implicações éticas relevantes, como a possibilidade teórica de criar óvulos a partir de células coletadas sem consentimento — por exemplo, de figuras públicas — tema que exige diálogo regulatório.
O campo segue sendo explorado por diferentes abordagens, como o uso de células-tronco para derivação de gametas, já demonstrado em roedores, mas ainda sem resultados robustos para humanos.
No horizonte científico, permanece a expectativa de que novas pesquisas possam superar os entraves técnicos e bioéticos, desenhando protocolos de maior eficiência e segurança para a geração artificial de gametas humanos. O avanço pode redefinir paradigmas de reprodução assistida e desafiar normas éticas e legislativas em âmbito global.
Fonte: (Live Science – Ciência)