
Brisbane — InkDesign News —
Pesquisadores australianos da Universidade de Queensland anunciaram, em junho de 2024, um avanço na criopreservação de tecidos da espécie Gossia gonoclada, árvore criticamente ameaçada com apenas 380 exemplares remanescentes no território selvagem do país. O programa visa preservar o DNA da planta em bancos de criogenia, numa tentativa de evitar sua extinção, diante de crescentes desafios ambientais.
O Contexto da Pesquisa
A Gossia gonoclada, conhecida como ‘angle-stemmed myrtle’, é uma pequena árvore nativa das matas ribeirinhas do sudeste de Queensland, Austrália, com papel na estabilização das margens fluviais e na oferta de alimento para aves e morcegos. No entanto, fatores como perda de habitat, mudanças climáticas e a disseminação do fungo exótico Austropuccinia psidii — causador da doença fúngica ‘myrtle rust’ — reduziram drasticamente sua população desde 2010. “O mais importante é impedir a contínua diminuição da espécie em seu habitat natural, onde ela desempenha funções ecológicas e, potencialmente, culturais”, explicou Alice Hayward, fisiologista molecular de plantas e supervisora do projeto, em entrevista ao Live Science.
(“The most important thing is preventing its continuing decline in the wild as this is where the plant is providing ecological functions and potentially cultural significance,” Alice Hayward, a plant molecular physiologist at the University of Queensland who supervises the project, told Live Science in an email.)
— Alice Hayward, Fisiologista Molecular, Universidade de Queensland
Resultados e Metodologia
Diante da baixa fertilidade das sementes da espécie, comprometidas pelo ataque fúngico, Hayward e a doutoranda Jingyin Bao adotaram a estratégia de congelar as pontas dos brotos — a região de crescimento ativo das plantas. O método consiste em cultivar brotos estéreis em meio gelatinoso, coletar as extremidades e tratá-las com uma solução crioprotetora antes do congelamento em nitrogênio líquido, a –196 ºC. “As soluções crioprotetoras protegem as células durante o congelamento, minimizando a formação de cristais de gelo que poderiam destruí-las; sem elas, a água dentro das células expandiria e as células se romperiam”, detalhou Hayward.
(“Cryoprotective solutions protect plant cells during freezing by minimizing the formation of damaging ice crystals, Hayward said. Without these solutions, water inside the cells would expand, and the cells would burst; but with the solutions, the water turns ‘glassy’ instead, she said.”)
— Alice Hayward, Fisiologista Molecular, Universidade de Queensland
A técnica já foi bem-sucedida com a Gossia fragrantissima, parente próxima, alcançando 100% de sobrevivência na recuperação das plantas. Segundo Hayward, os primeiros testes com a Gossia gonoclada apresentam resultados promissores, ainda que os pesquisadores sigam buscando aprimoramento e ampliando a diversidade genética amostrada.
Implicações e Próximos Passos
Além de garantir a conservação da espécie, há o objetivo de preservar máxima diversidade genética possível, incluindo espécimes potencialmente tolerantes à doença e às variações climáticas. “É importante que haja diversidade genética salva suficiente para oferecer a melhor chance de sobrevivência futura da espécie, especialmente caso exista tolerância natural à ‘myrtle rust’ ou a mudanças climáticas”, ponderou Hayward.
(“It is important that there is sufficient genetic diversity saved to provide the best chance of species survival in the future, especially if there happens to be any natural tolerance to myrtle rust or changing climate conditions,” Hayward said.)
— Alice Hayward, Fisiologista Molecular, Universidade de Queensland
Ainda não foram identificados exemplares com resistência evidente na população analisada, mas esforços seguem em parceria com autoridades locais para a identificação desses indivíduos. Segundo as pesquisadoras, a iniciativa pode servir de modelo para conservação de outros vegetais ameaçados, promovendo a criação de criobancos para salvaguardar recursos genéticos essenciais para o futuro alimentar e ambiental.
A continuidade e expansão de tais estratégias representam não só uma resposta imediata à crise de extinção, mas também um investimento para as próximas gerações, que poderão recorrer à biodiversidade preservada pelos bancos criogênicos diante de novos desafios ambientais.
Fonte: (Live Science – Ciência)