
Helsinque — InkDesign News — Cientistas europeus e britânicos anunciaram, nesta semana, novas descobertas sobre o vórtice polar marciano, fruto de uma pesquisa apresentada durante o encontro conjunto EPSC-DPS 2025. Os resultados oferecem um raro vislumbre das severas condições na atmosfera acima do Polo Norte de Marte, particularmente durante o inverno do planeta.
O Contexto da Pesquisa
O interesse científico sobre o clima extremo em Marte não é recente. O planeta vermelho, com sua inclinação axial de 25,2 graus, exibe dinâmicas sazonais comparáveis à Terra, apresentando, porém, fenômenos atmosféricos menos documentados. Explicar o impacto dos vórtices polares — regiões de ar em circulação intensa e temperatura radicalmente reduzida — pode elucidar transformações químicas essenciais à habitabilidade marciana. Entender a presença e a variabilidade do ozônio, um agente crucial para a proteção contra radiação ultravioleta, representa um passo significativo para pesquisadores que buscam traços de vida passada no planeta.
Resultados e Metodologia
A equipe liderada pelo Dr. Kevin Olsen, da Universidade de Oxford, utilizou instrumentos a bordo do ExoMars Trace Gas Orbiter da ESA e o Mars Climate Sounder da NASA para monitorar a composição atmosférica durante o prolongado inverno marciano.
“O interior do vórtice polar, desde a superfície até cerca de 30 quilômetros de altitude, apresenta temperaturas extremas, aproximadamente 40 graus Celsius mais baixas do que fora do vórtice”, disse Dr. Olsen.
(“The atmosphere inside the polar vortex, from near the surface to about 30 kilometers high, is characterized by extreme cold temperatures, about 40 degrees Celsius colder than outside the vortex,” said Dr. Kevin Olsen.)— Dr. Kevin Olsen, Pesquisador, Universidade de Oxford
Esse resfriamento intenso faz com que o vapor d’água — escasso na atmosfera marciana — congele e se deposite sobre as calotas polares. Tal evento altera de forma marcante a concentração de ozônio, já que, ausente o vapor, cessa a destruição da molécula causada pela ruptura da água pela radiação ultravioleta. Assim, o ozônio acumula-se no interior do vórtice invernal, tornando-se uma chave para estudar os processos químicos em jogo.
A metodologia demandou correlação entre as leituras de temperatura (indicativas da presença do vórtice) e espectros de absorção solar, alcançados quando o Sol tangencia a atmosfera de Marte. Contudo, durante o inverno polar, em completa escuridão, a análise tornou-se dependente de raras ocasiões em que o vórtice se deforma, permitindo visadas instrumentais únicas.
“Ozônio é um gás muito importante em Marte — é uma forma reativa de oxigênio e indica a rapidez das reações químicas na atmosfera”, explica Olsen.
(“Ozone is a very important gas on Mars — it’s a very reactive form of oxygen and tells us how fast chemistry is happening in the atmosphere,” said Olsen.)— Dr. Kevin Olsen, Pesquisador, Universidade de Oxford
Implicações e Próximos Passos
Os dados sugerem que, em algum momento remoto, Marte pode ter abrigado uma camada de ozônio protetora, comparável à da Terra, aumentando as chances de condições propícias à vida em eras passadas. Segundo os autores, medir detalhadamente as flutuações do ozônio pode ainda ajudar a explicar a evolução da atmosfera marciana e guiar futuras missões.
O lançamento do rover Rosalind Franklin, previsto para 2028 pela ESA, promete aprofundar a busca por vestígios de vida e refinar nossa compreensão sobre a interação entre química atmosférica e habitabilidade em Marte. Pesquisadores defendem o uso integrado de observações a partir da órbita e da superfície para desvendar os processos químicos sazonais do planeta vermelho.
Os próximos passos incluem a análise de novas deformações do vórtice polar em futuros invernos marcianos e possíveis adaptações tecnológicas nos instrumentos em solo e órbita para maximizar a coleta de dados durante os períodos de escuridão total.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)