
Busan — InkDesign News — Uma pesquisa liderada por cientistas do Instituto de Física do Clima do Centro de Ciência Básica, na Universidade Nacional de Pusan, Coreia do Sul, projeta que três quartos das regiões mundiais suscetíveis à seca poderão enfrentar episódios extremos de escassez hídrica, conhecidos como “secas do dia zero”, até 2100, caso as emissões globais não sejam reduzidas. O estudo demonstra que, em cerca de um terço dessas áreas, a emergência pode ocorrer antes de 2030.
O Contexto da Pesquisa
Desde o notório episódio em 2018, em que a cidade do Cabo, na África do Sul, esteve à beira de suspender o fornecimento de água para cerca de 4 milhões de pessoas, o conceito de “dia zero” — momento em que a demanda local de água excede a oferta fornecida por precipitação e reservatórios — ganhou atenção global. Em 2019, Chennai, na Índia, declarou formalmente tal estado, dependendo de caminhões-pipa para suprir a população de aproximadamente 11 milhões de habitantes. Diversos estudos destacam que as mudanças climáticas tendem a reduzir chuvas e níveis de rios, agravando a situação de reservas hídricas em cidades e no campo.
Resultados e Metodologia
A equipe coordenada pelo climatologista Christian Franzke utilizou dois modelos climáticos globais — o Community Earth System Model (CESM), dos Estados Unidos, e o modelo do Centre National de Recherches Météorologiques (CNRM), da França. Essas simulações incluíram consumo humano e tendências de precipitação, produzindo cenários de aquecimento intermediário (2,7°C até 2100) e elevado (3,6°C). O modelo CNRM aponta que, sob altas emissões, até 74% das regiões propensas à seca mundialmente poderão enfrentar secas persistentes e severas até o século XXI. Entre as áreas críticas, cidades como Chicago, Washington D.C., Phoenix, San Diego e Milwaukee poderão ser afetadas antes de 2030; e outras, como Las Vegas, Minneapolis e Kansas City, até 2060.
“At some point, the water might run out. You’re at home, you turn on your water tap in the kitchen or bathroom, and no water would come out.”
(“Em algum momento, a água pode acabar. Você está em casa, abre a torneira do banheiro ou da cozinha, e não sai uma gota.”)— Christian Franzke, climatologista, Universidade Nacional de Pusan
Segundo os autores, 750 milhões de pessoas poderão estar em risco até 2100, incluindo 470 milhões em áreas urbanas e 290 milhões em zonas rurais. Para determinar a velocidade e a localização dos novos episódios, os modelos levaram em conta tanto o crescimento do consumo quanto as tendências de déficit hídrico devido ao clima.
Implicações e Próximos Passos
Especialistas sugerem que a frequência dessas secas pode impossibilitar a habitabilidade de regiões críticas. O encurtamento dos intervalos entre eventos do tipo “dia zero” pode impedir a recuperação dos reservatórios e dificultar o fornecimento contínuo de água.
“The findings are consistent with the physics that is driving a warmer, thirstier atmosphere to more rapidly drain fresh water from the continents and confirms known hotspots for increasing drought severity that also depend on changing wind patterns.”
(“As descobertas são consistentes com a física de uma atmosfera mais quente e sedenta, que esgota águas continentais mais rapidamente e confirma regiões críticas, cuja gravidade das secas aumenta também devido à mudança dos ventos.”)— Richard Allan, climatologista, Universidade de Reading
Franzke ressalta que a vulnerabilidade varia conforme o local e que o conhecimento dessa distribuição é primordial para estratégias regionais de manejo hídrico. O desenvolvimento de políticas para cortes de emissões e transição energética são destacados como urgentes para conter a aceleração desses fenômenos.
No horizonte, a adaptação a períodos secos mais prolongados e o corte rápido de gases de efeito estufa são apontados como cruciais para evitar consequências sociais e econômicas catastróficas. Medidas integradas de gestão da água e colaboração internacional são consideradas determinantes para a resiliência diante desse crescente desafio global.
Fonte: (Live Science – Ciência)