
Pequim — InkDesign News — Um estudo internacional publicado na revista Nature Communications detalha o papel da China na contenção do aquecimento global, analisando cenários plausíveis para que o planeta limite o aumento da temperatura a menos de 2°C neste século. A pesquisa, liderada pelo cientista Junting Zhong, ganhou relevância diante das recentes promessas climáticas feitas por Pequim para a redução de gases do efeito estufa até 2035.
O Contexto da Pesquisa
As políticas climáticas globais frequentemente enfrentam críticas sobre sua clareza e exequibilidade, com metas ambiciosas sendo questionadas quanto à viabilidade. Um diálogo ocorrido anos atrás ilustra essa preocupação quando “um dos autores (Myles Allen) perguntou a uma delegada chinesa em uma conferência climática por que Pequim optou por ‘neutralidade de carbono’ para sua meta de 2060, ao invés de termos mais comuns como ‘neutralidade climática’ ou ‘emissões líquidas zero'”. Em resposta, ela afirmou:
“Porque sabemos o que isso significa.”
(“Because we know what it means.”)— Delegada chinesa, Conferência Climática
Esse posicionamento evidencia o pragmatismo chinês: ao contrário de muitos países, a China busca anunciar compromissos climáticos que entende e pretende efetivamente cumprir. Nesse contexto, Pequim se comprometeu a cortar entre 7% e 10% das emissões totais de gases de efeito estufa até 2035, parte de sua adesão ao Acordo de Paris.
Resultados e Metodologia
O artigo de Zhong e colegas propõe o conceito de “cenário alinhado à realidade”, sugerindo trajetórias de emissão baseadas em históricos realistas e compromissos próximos dos países. Eles projetam que as emissões globais de dióxido de carbono deverão atingir o pico ainda nesta década e zerar por volta de 2070, enquanto a redução de metano e outros gases seria imediata, porém gradual. Isso faria com que o aquecimento global atingisse ligeiramente acima de 2°C até o fim do século, mas recuasse logo depois.
“No cenário traçado, as emissões de CO₂ da China atingiriam o auge nos próximos anos, declinando até quase zero em 2060; já as emissões de metano começariam a cair imediatamente.”
(“In their scenario, the country’s carbon dioxide emissions would peak in the next few years before a steady decline brings them close to zero by 2060. Methane emissions would begin to decline immediately.”)— Junting Zhong, Pesquisador, Nature Communications
A análise sugere que iniciativas como reflorestamento terão papel pequeno na estratégia chinesa, com maior ênfase dada ao corte direto de emissões e expansão de fontes renováveis.
Implicações e Próximos Passos
A pesquisa ressalta o protagonismo chinês no combate às mudanças climáticas — país responsável por uma grande parcela das emissões globais de metano, sobretudo oriundas de minas de carvão. Esforços para diferenciar e quantificar de forma transparente as reduções tanto de CO₂ quanto de gases de vida curta, como metano, são considerados essenciais para a confiabilidade internacional dos compromissos chineses.
A necessidade de transparência e detalhamento de ações, como o real papel de projetos de reflorestamento e das tecnologias para captura e armazenamento de carbono, permanece tema central no debate.
“As metas chinesas não são apenas slogans — são compromissos baseados no que o país acredita poder concretizar.”
(“China’s targets aren’t just slogans or aspirations — they are statements of intent, grounded in what the country believes it can deliver.”)— Myles Allen, Cientista do Clima, Universidade de Oxford
O estudo destaca que a frase do presidente Xi Jinping ao declarar que a China buscará “fazer ainda melhor” reforça a expectativa internacional por superação das metas já anunciadas.
No horizonte, permanece o desafio global de alinhar promessas ambiciosas à implementação prática, especialmente em grandes emissores como a China. Especialistas indicam que a atenção ao detalhamento técnico e ao monitoramento independente das ações climáticas pode servir de modelo, criando uma referência para outros países no combate às mudanças climáticas.
Fonte: (Live Science – Ciência)