
Image: Popular Science Composite
Londres — InkDesign News — Cientistas outsiders desafiaram paradigmas da medicina ao anunciarem, em 1925, a visualização inédita de partículas associadas ao câncer, em pesquisa publicada pela revista The Lancet. O trabalho uniu Joseph Edwin Barnard, tradicional chapeleiro londrino, e William Ewart Gye, ex-funcionário ferroviário, ambos autodidatas, marcando um ponto de inflexão na busca pela origem do câncer.
O Contexto da Pesquisa
A década de 1920 testemunhava avanços contínuos na identificação de microrganismos causadores de doenças fatais como cólera, tuberculose e pneumonia, durante o chamado “período de ouro da bacteriologia”. Ainda assim, a origem do câncer permanecia um mistério, impulsionando especulações e investigações diversas. Barnard dedicava suas noites ao desenvolvimento de microscópios mais potentes, enquanto Gye, após uma mudança de nome rodeada de mistério, mergulhou em biologia experimental e teoria microbiana para estudar tumores. O encontro entre ambos proporcionou à pesquisa britânica uma fusão inédita entre domínio técnico em óptica e experiência experimental.
Resultados e Metodologia
Em colaboração, Barnard e Gye anunciaram à comunidade médica internacional a detecção de “corpos particulados” — partículas observadas em células tumorais sob microscópios aprimorados com luz ultravioleta e lentes especiais, elaboradas por Barnard. Fotografias dessas partículas foram publicadas, com variações de espessura interpretadas como indícios de replicação viral nas células afetadas.
“O vírus sozinho é inefetivo. Um segundo fator específico, obtido de extratos tumorais, rompe as defesas celulares e permite que o vírus infecte”
(“The virus alone is ineffective. A second specific factor, obtained from tumour extracts, ruptures the cell defences and enables the virus to infect.”)
— William Ewart Gye, pesquisador independente
A equipe realizou experimentos com pintainhos, nos quais a administração combinada do extrato viral e do extrato tumoral resultou no desenvolvimento consistente de tumores, enquanto a administração isolada de um dos fatores não produzia resultados. O feito foi destacado como “um evento na história da medicina” pela revista The Lancet, que constatou sua importância no cenário científico da época.
Implicações e Próximos Passos
A hipótese dos dois fatores — vírus e elemento tissular — não se confirmou integralmente, contudo, direcionou futuras gerações de pesquisadores para o estudo molecular do câncer. Avanços contemporâneos demonstram que cânceres são causados por múltiplos fatores, incluindo mutações genéticas, agentes ambientais e, em alguns casos, vírus como HPV e EBV. As descobertas dos anos 1920 possibilitaram o desenvolvimento de microscopia eletrônica e técnicas de super-resolução, permitindo investigações profundas sobre os mecanismos internos das células cancerosas.
“Gye e seus colegas do Conselho Médico, atualmente, desenvolvem experimentos para criar uma vacina contra o câncer, de modo a impedir que o germe se firme no corpo”
(“Gye and his colleagues in the British Medical Research Council now are busy with experiments to develop a cancer vaccine that will make it impossible for the germ to secure a foothold in the body.”)— Peter Vischer, Popular Science
O otimismo inicial cedeu lugar à compreensão de que o câncer constitui um conjunto multifacetado de doenças. No entanto, os ganhos em prevenção, detecção precoce e tratamentos prolongam a vida de pacientes e redefinem perspectivas, abrindo campo para novos marcos científicos.
A continuidade do legado de Barnard e Gye demonstra o potencial transformador de trajetórias fora do circuito institucional, sugerindo que a ciência colhe benefícios quando se abre a inovadores e autodidatas. Futuras pesquisas deverão aprofundar ainda mais os caminhos da biologia molecular e terapias direcionadas, mantendo viva a busca pela “solução do problema central do câncer”.
Fonte: (Popular Science – Ciência)