
Brasília — InkDesign News —
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Butantan e mais 23 instituições internacionais introduziu uma nova nomenclatura para as linhagens do vírus da dengue. As denominações foram adotadas em setembro de 2024 e visam aprimorar a vigilância epidemiológica e a comunicação entre laboratórios.
Contexto e objetivos
A dengue, doença viral transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, representa um desafio significativo para a saúde pública, especialmente em países tropicais como o Brasil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 100 milhões de pessoas são afetadas pela dengue anualmente. O objetivo da nova nomenclatura é facilitar a vigilância das mutações do vírus e proporcionar uma comunicação mais eficaz entre autoridades de saúde e laboratórios, permitindo monitorar novas linhagens que possam apresentar risco epidemiológico.
Metodologia e resultados
A pesquisa intitulada A new lineage nomenclature to aid genomic surveillance of dengue virus foi publicada na revista científica PLOS Biology. O estudo identificou quatro sorotipos do vírus da dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4), que apresentam 17 genótipos, e propôs uma nova estrutura de classificação que inclui dois níveis adicionais: linhagens maiores e menores. A diretriz de nomenclatura permite uma descrição mais detalhada sobre a diversidade viral, onde um exemplo prático é a designação DENV-3III_C.2, que caracteriza um vírus do sorotipo 3, genótipo III, linhagem maior C e linhagem menor 2. O bioinformata Alex Ranieri destacou a relevância dessa abordagem:
“Enquanto um genótipo pode abranger vírus de vários continentes, uma linhagem específica pode refletir circulação restrita a uma região ou país. O artigo no qual foi publicado o sistema mostra, por exemplo, que a linhagem DENV-2II_A foi identificada apenas no hemisfério oriental. Assim, se essa linhagem surgisse em outro continente, isso indicaria nova rota de introdução, permitindo resposta rápida das autoridades sanitárias.”
(“While a genotype can encompass viruses from multiple continents, a specific lineage may reflect circulation restricted to a region or country. The article in which the system was published shows, for example, that the lineage DENV-2II_A was identified only in the eastern hemisphere. Thus, if this lineage were to emerge on another continent, it would indicate a new route of introduction, allowing a prompt response from health authorities.”)— Alex Ranieri, Bioinformata, Instituto Butantan
Implicações para a saúde pública
Com mais de 13 milhões de casos notificados em 2024, sendo 10,2 milhões no Brasil, a nova nomenclatura pode impactar, indiretamente, a estratégia de vacinação contra a dengue. O novo sistema identifica mutações que podem influenciar a resposta imunológica induzida por vacinas. Ranieri afirmou que este monitoramento contínuo melhora a detecção precoce de variantes com potencial de escape imunológico:
“Com o monitoramento contínuo das linhagens, é possível detectar precocemente variantes com potencial de escape imunológico e avaliar se há impacto na eficácia vacinal. Isso oferece uma base científica para ajustar futuras formulações de vacinas de forma mais precisa.”
(“With continuous monitoring of lineages, it is possible to early detect variants with immune escape potential and assess whether there is an impact on vaccine efficacy. This provides a scientific basis for adjusting future vaccine formulations more precisely.”)— Alex Ranieri, Bioinformata, Instituto Butantan
Essa mudança no panorama da nomenclatura do vírus da dengue abre caminhos para a implementação de estratégias mais eficazes na abordagem da doença. Observa-se, assim, a necessidade crescente de protocolos de vigilância e resposta sanitária que considerem as dinâmicas genômicas do vírus e seus impactos na saúde pública.
Fonte: (Agência Brasil – Saúde)