
Roma — InkDesign News — Um estudo liderado por astrônomos italianos revelou a presença de uma gigantesca “onda” atravessando a Via Láctea, movimentando bilhões de estrelas em seu rastro. A descoberta foi publicada em 14 de julho na revista Astronomy & Astrophysics, a partir de dados do telescópio espacial Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA), que já mapeou as posições e velocidades de milhões de estrelas antes de se aposentar no início deste ano.
O Contexto da Pesquisa
Nos últimos doze anos, o telescópio Gaia permitiu um avanço sem precedentes no entendimento da estrutura e dinâmica da Via Láctea. Antes deste estudo, já se sabia que a galáxia apresentava movimentos ondulatórios, como a “Radcliffe Wave” — uma onda menor localizada nas proximidades do Sol, com 9 mil anos-luz de extensão. Porém, esta nova pesquisa buscou compreender fenômenos em escala ainda mais vasta, em regiões situadas entre 30 mil e 65 mil anos-luz do centro galáctico, abrangendo boa parte dos limites do disco da galáxia.
Resultados e Metodologia
O grupo internacional empregou os dados precisos de posição e velocidade de jovens estrelas gigantes e de cefeidas — estrelas com brilho variável e previsível —, correlacionando seus movimentos para detectar padrões coletivos. As análises revelaram uma enorme onda propagando-se pelo disco galáctico, influenciando tanto estrelas quanto, possivelmente, os gases interestelares dos quais elas se formam.
“Como estrelas jovens e cefeidas movem-se com a onda, os cientistas pensam que o gás no disco também participa dessa grande ondulação”
(“Because young giant stars and Cepheids move with the wave, the scientists think that gas in the disc might also be taking part in this large-scale ripple”)— Equipe ESA
Segundo comunicado da ESA, o efeito se assemelha à “onda” em estádios de futebol, propagando-se setor por setor: indivíduos levantam-se, erguem os braços e sentam-se novamente, produzindo um movimento coletivo contínuo.
A origem do fenômeno ainda é incerta. Uma hipótese levantada sugere que uma colisão passada entre a Via Láctea e uma galáxia anã possa ter desencadeado a ondulação gigante. No entanto, confirmação ou descartar tal cenário exige novas investigações.
“Esse comportamento observado é consistente com o que esperaríamos de uma onda”
(“This observed behaviour is consistent with what we would expect from a wave”)— Eloisa Poggio, astrônoma, Instituto Nacional de Astrofísica, Itália
Implicações e Próximos Passos
O achado fornece pistas importantes sobre eventos cósmicos pregressos que podem ter moldado a galáxia, além de estimular investigações sobre como estrelas jovens guardam memórias do meio interestelar em que se formaram. Embora exista relação conceitual com a Radcliffe Wave, Eloisa Poggio destaca que a estrutura agora identificada situa-se em região diferente do disco galáctico, e relações entre ambas permanecem incertas.
Pesquisas futuras devem comparar mapas detalhados dessas duas ondas e buscar por eventuais conexões entre distúrbios em diferentes zonas do disco galáctico. Especialistas esperam que, à medida que novas gerações de telescópios e dados se tornem disponíveis, seja possível desvendar os gatilhos históricos para movimentos tão amplos.
No horizonte científico, a busca pela origem da onda pode implicar revisões em modelos de evolução galáctica e abrir oportunidades para o entendimento de outras galáxias espirais.
Fonte: (Live Science – Ciência)