
Londres — InkDesign News — Cientistas que analisam dados da sonda Cassini anunciaram, em 1º de outubro, a descoberta de novas moléculas orgânicas complexas provenientes do oceano subterrâneo da lua Encélado, de Saturno. O estudo, publicado na revista Nature Astronomy, reforça os argumentos para uma missão dedicada da Agência Espacial Europeia (ESA) à Encélado, visando investigar seu potencial para sustentar vida.
O Contexto da Pesquisa
Desde 2005, a presença de um oceano sob a crosta gelada de Encélado vem sendo especulada com base em jatos de água e gelo detectados próximos ao polo sul lunar. Essas plumas intrigararam a comunidade científica ao apontar para ambientes quimicamente ativos – um pré-requisito para vida, segundo o paradigma astrobiológico. O estudo recém-publicado aprofunda as evidências de processos químicos complexos nesse oceano, potencializados pelo acesso a dados inéditos obtidos pela Cassini durante um sobrevoo realizado em 2008.
Resultados e Metodologia
Os pesquisadores identificaram moléculas inéditas em grãos de gelo recém-ejetados de Encélado, analisados pelo instrumento Cosmic Dust Analyzer (CDA) da Cassini a uma velocidade de 18 km/s. Até então, acreditava-se que grande parte dos compostos encontrados nos anéis de Saturno (formados pelos mesmos grãos) pudesse ser resultado da exposição prolongada ao ambiente espacial. Entretanto, a análise de partículas frescas revelou que essas moléculas se originam diretamente no oceano submerso do satélite.
Fragmentos moleculares identificados incluem estruturas alquilas, ésteres cíclicos e heterocíclicos, éteres, além de compostos contendo nitrogênio e oxigênio – moléculas que, na Terra, estão associadas a vias químicas essenciais à vida. Em depoimento sobre a importância dessa rapidez na coleta, o cientista Nozair Khawaja detalhou:
“A velocidade foi fundamental. Os grãos continham não apenas água congelada, mas também outras moléculas, incluindo orgânicos. Em velocidades baixas, o gelo se fragmenta e sinais de moléculas orgânicas ficam encobertos. Com impacto veloz, conseguimos detectar sinais antes ocultos.”
(“The speed mattered…we have a chance to see these previously hidden signals.”)— Nozair Khawaja, autor principal, Universidade de Londres
O coautor Frank Postberg complementou:
“Essas moléculas que encontramos no material ejetado provam que os compostos orgânicos complexos detectados anteriormente são produzidos no oceano de Encélado e não apenas como produtos da exposição ao espaço.”
(“These molecules we found in the freshly ejected material prove…are readily available in Enceladus’s ocean.”)— Frank Postberg, físico, Universidade de Heidelberg
Implicações e Próximos Passos
O achado impulsiona o projeto de uma nova missão da ESA, atualmente em fase de estudos, que prevê sobrevoos pelos jatos e a coleta direta de amostras na superfície próxima ao polo sul de Encélado. A seleção de instrumentos modernos para análise in loco é um dos tópicos centrais nas discussões de cientistas e engenheiros europeus. Os dados ajudam não apenas a refinar estratégias de observação, mas também a reforçar o argumento sobre a habitabilidade de Encélado, já que reúne água líquida, energia, elementos químicos específicos e moléculas orgânicas complexas.
Nicolas Altobelli, cientista do projeto Cassini pela ESA, afirmou:
“É fascinante ver novas descobertas surgindo a partir dos dados da Cassini após quase duas décadas, demonstrando o impacto duradouro dessas missões. Espero comparar estes resultados com dados de futuras missões à Encélado e outras luas geladas.”
(“It’s fantastic to see new discoveries emerging from Cassini data almost two decades after…”)— Nicolas Altobelli, Cientista de projeto, ESA
A expectativa é que uma missão europeia a Encélado coloque o continente na vanguarda da ciência do Sistema Solar. Caso a vida não seja identificada, o resultado ainda levantaria questões fundamentais sobre os limites da habitabilidade.
O avanço apresentado colabora não apenas para a astrobiologia, mas também para decisões estratégicas sobre futuras explorações planetárias — tornando Encélado um dos principais alvos de estudo para a próxima década.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)