
Paris — InkDesign News — Pesquisadores da Agência Espacial Europeia (ESA) realizaram, entre 1 e 7 de outubro, uma rara observação do cometa interestelar 3I/ATLAS, utilizando os orbitadores ExoMars Trace Gas Orbiter (TGO) e Mars Express, que estavam posicionados nas proximidades de Marte quando o objeto celestial passou a cerca de 30 milhões de quilômetros do planeta vermelho.
O Contexto da Pesquisa
O cometa 3I/ATLAS é apenas o terceiro objeto do tipo já identificado, seguindo os registros prévios de 1I/ʻOumuamua, em 2017, e 2I/Borisov, em 2019. Origem interestelar, como evidenciado pelo próprio nome, significa que o objeto não se formou dentro do Sistema Solar, diferentemente dos astros que tradicionalmente compõem Marte, a Terra e seus vizinhos. A descoberta foi realizada pelo telescópio Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System (ATLAS), em Río Hurtado, Chile, em 1º de julho de 2025, e desde então tem sido monitorada por instrumentos terrestres e em órbita.
Resultados e Metodologia
Para captar imagens de um alvo tão distante e tênue, os cientistas da ESA desafiaram os limites técnicos dos instrumentos de bordo a centenas de milhares de quilômetros além de Marte. O ExoMars TGO utilizou sua câmera CaSSIS para registrar imagens sequenciais do cometa, capturando um ponto esbranquiçado próximo ao centro da animação—identificado como o núcleo envolto pela coma brilhante do cometa.
No entanto, o instrumento não foi capaz de dissociar núcleo e coma individualmente, pois, como explica Nick Thomas, líder da equipe CaSSIS:
“This was a very challenging observation for the instrument. The comet is around 10,000 to 100,000 times fainter than our usual target.”
(“Esta foi uma observação extremamente desafiadora para o instrumento. O cometa é cerca de 10.000 a 100.000 vezes mais tênue do que nosso alvo habitual.”)— Nick Thomas, Pesquisador Principal da CaSSIS, ESA
A Mars Express, por limitação técnica, só pôde registrar exposições de até 0,5 segundo, enquanto o TGO utilizou exposições de cinco segundos, tornando o registro mais difícil para o primeiro. Para contornar tal limitação, pesquisadores analisam composições de multiplas imagens, além de explorar dados espectrais na tentativa de identificar a composição química do cometa por instrumentos como OMEGA, SPICAM e NOMAD.
Implicações e Próximos Passos
A aproximação de 3I/ATLAS oferece uma oportunidade única de estudar diretamente um corpo primordial, potencialmente três bilhões de anos mais antigo que o próprio Sistema Solar, lançado do espaço interestelar. Tais análises podem desvendar pistas inéditas sobre a formação de sistemas planetários em outras regiões da Via Láctea.
No próximo mês, o cometa será observado pelo Juice, missão da ESA dedicada a Júpiter, porém suas imagens só estarão disponíveis em fevereiro de 2026. Em horizonte mais longo, a missão Comet Interceptor, com lançamento previsto para 2029, aguardará alvos como 3I/ATLAS ou outros cometas intactos vindos da Nuvem de Oort.
“When Comet Interceptor was selected in 2019, we only knew of one interstellar object — 1I/ʻOumuamua, discovered in 2017. Since then, two more such objects have been discovered, showing large diversity in their appearance. Visiting one could provide a breakthrough in understanding their nature.”
(“Quando a missão Comet Interceptor foi selecionada em 2019, conhecíamos apenas um objeto interestelar — 1I/ʻOumuamua, descoberto em 2017. Desde então, outros dois foram identificados, mostrando ampla diversidade em sua aparência. Visitar um deles pode representar um avanço decisivo na compreensão de sua natureza.”)— Michael Kueppers, Cientista de Projeto, ESA
O estudo persistirá nas próximas semanas e meses, com análises aprofundadas dos registros obtidos até que novas missões possam interceder de modo mais direto. Observações como estas estabelecem pontes com a galáxia mais ampla e prenunciam uma nova era para a astrofísica e o entendimento sobre o lugar do Sistema Solar no cosmos.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)