
Rio de Janeiro — InkDesign News — Há exatos 100 anos, Albert Einstein chegou ao Rio de Janeiro para uma das suas primeiras incursões pedagógicas na América do Sul, com o objetivo de discutir e divulgar a Teoria da Relatividade. A breve, porém significativa passagem ocorreu em maio de 1925, um marco histórico para o currículo científico brasileiro que ainda investia timidamente em pesquisas básicas.
Contexto educacional
No início do século XX, o Brasil vivia um cenário educacional marcado pela quase exclusividade de cursos técnicos e profissionais, com destaque para as escolas de engenharia, medicina e direito. A promoção das chamadas “ciências puras”, ou pesquisa básica, ainda era embrionária, e a oferta institucional era reduzida. Como assinala Alfredo Tolmasquim, professor do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), “O Brasil teve uma influência positivista muito grande no Século 19, e essa corrente defendia que o importante é utilizar a ciência para a melhoria da sociedade, e não fazer pesquisas que eles consideravam como um proselitismo inútil. Então, o início do Século 20 é o período em que justamente começa a vir o movimento que eles chamavam de ‘ciência pura’, que eram as pesquisas em ciência básica. Pra gente ter uma ideia, nessa época, a única universidade que a gente tinha era uma junção das escolas de engenharia, medicina e direito.”
Políticas e iniciativas
Organizada e financiada por entidades judaicas, com apoio de instituições científicas brasileiras, a viagem de Einstein serviu para estreitar laços acadêmicos e comunitários ante o avanço do nazismo na Europa. No Rio, Einstein visitou importantes órgãos científicos como a Fundação Oswaldo Cruz, Museu Nacional e Observatório Nacional, além de proferir palestras na Academia Brasileira de Ciências e no Clube de Engenharia. Essa missão teve um impulso para o debate das ciências básicas no país. Segundo Tolmasquim, “A gente não pode dizer que uma visita de uma semana do Einstein foi capaz de mudar a realidade brasileira. Não foi. Já era algo que estava acontecendo, mas ele contribuiu para esse debate.”
Desafios e perspectivas
Além da lacuna em pesquisas avançadas, a visita evidenciou contrastes, inclusive na percepção eurocêntrica de Einstein sobre o Brasil, marcada por críticas ao clima e costumes locais, e por termos que hoje soariam controversos. Contudo, ele reconheceu avanços em áreas como saúde mental, destacando o trabalho do psiquiatra Juliano Moreira e iniciativas de inclusão social, como as promovidas pelo general Cândido Rondon. A influência da comprovação da relatividade em Sobral, Ceará, durante eclipse solar de 1919, revelou a importância do Brasil no cenário científico internacional, fato que Einstein valorizou ao dizer:
“O problema que a minha mente imaginou foi resolvido aqui no céu do Brasil.”
— Albert Einstein
Entretanto, obstáculos estruturais e a insuficiente interlocução acadêmica fizeram com que Einstein se sentisse frustrado em determinados momentos, descrevendo na véspera da partida: “Longos discursos com muito entusiasmo e excessiva adulação, mas sinceros. Graças a Deus acabou. Finalmente livre, mas mais morto que vivo”.
O legado da visita reforça a importância da inserção do Brasil no diálogo global das ciências básicas e na valorização da pesquisa com vistas à inovação pedagógica e científica no currículo nacional, sobretudo em um contexto de desafios sociais e históricos ainda latentes.
Fonte: (Agência Brasil – Educação)