Londres — InkDesign News — Uma equipe internacional de astrônomos revelou uma “grande onda” que se propaga pelo disco da Via Láctea, alterando o posicionamento de estrelas a dezenas de milhares de anos-luz do centro galáctico. O fenômeno, detectado a partir de dados do telescópio espacial Gaia, da ESA, redesenha o panorama de movimentos da nossa galáxia.
O Contexto da Pesquisa
Observações científicas desde o início do século XX já haviam estabelecido que as estrelas da Via Láctea orbitam em torno do núcleo galáctico. Nas décadas seguintes, foi identificado que o disco galáctico não é plano, mas levemente deformado. Em 2020, análises do telescópio Gaia revelaram ainda oscilações lentas nesse disco, comparáveis ao movimento de um pião. No entanto, a recente descoberta aponta para uma nova dimensão: uma onda estelar de grandes proporções, similar a um enorme “ripple” que se alastra da região central para a periferia da galáxia.
Resultados e Metodologia
O estudo liderado por Eloisa Poggio, do Istituto Nazionale di Astrofisica (INAF), utilizou medições tridimensionais e de movimento do Gaia para mapear a dinâmica de milhares de estrelas jovens gigantes e variáveis do tipo Cefeida.
“O intrigante não é apenas a aparência visual da estrutura ondulatória em 3D, mas também seu comportamento como onda ao analisarmos o movimento das estrelas.”
(“The intriguing part is not only the visual appearance of the wave structure in 3D space, but also its wave-like behavior when we analyze the motions of the stars within it.”)— Eloisa Poggio, Astrônoma, INAF
Mapas do projeto mostram que a onda afeta estrelas de 30.000 a 65.000 anos-luz do centro galáctico — uma porção expressiva da Via Láctea, que mede cerca de 100.000 anos-luz de diâmetro. Em visualizações “de cima”, as regiões em vermelho e azul indicam estrelas acima e abaixo do plano deformado do disco, respectivamente; setas ilustram movimentos verticais associados à passagem da onda. O fenômeno, segundo Eloisa Poggio, pode ser comparado à “onda” feita por torcedores em estádios — se a cena fosse congelada, diferentes estágios do movimento marcariam a posição das estrelas na galáxia.
“A próxima liberação de dados do Gaia trará posições e velocidades ainda mais precisas, o que permitirá mapas mais detalhados e avanços importantes na compreensão dessas estruturas.”
(“The upcoming fourth data release from Gaia will include even better positions and motions for Milky Way stars, including variable stars like Cepheids. This will help scientists to make even better maps, and thereby advance our understanding of these characteristic features in our home galaxy.”)— Johannes Sahlmann, Cientista do Projeto Gaia, ESA
Investigações sugerem que, além das estrelas, o gás interestelar do disco galáctico também pode ser afetado, o que pode fazer com que estrelas recém-formadas conservem uma espécie de “memória” do movimento ondulante.
Implicações e Próximos Passos
A origem dessa vasta oscilação permanece incerta. Uma hipótese cogita que interações ou colisões passadas com pequenas galáxias satélites tenham provocado as ondas observadas. Especialistas também avaliam possíveis conexões entre a grande onda identificada e uma formação menor, conhecida como Onda Radcliffe, embora ambas differem em escala e localização.
O aprofundamento dos levantamentos com o Gaia pode, no futuro, estabelecer as relações entre diferentes padrões ondulatórios e desvendar a dinâmica evolutiva da Via Láctea. Investigações futuras focarão em ampliar mapas e incorporar estrelas variáveis para refinar o entendimento dos processos físicos subjacentes.
Diante dessas descobertas, a divulgação de novos dados do Gaia promete desencadear avanços relevantes não só para a astrofísica, como também para modelos de formação e evolução galáctica, consolidando a Via Láctea como laboratório natural para esses grandes fenômenos gravitacionais.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)





