
Cork, Irlanda — InkDesign News — Pesquisadores da University College Cork, liderados pela Professora Yvonne Nolan, elucidaram em 21 de outubro os mecanismos metabólicos que tornam o exercício físico capaz de neutralizar efeitos comportamentais negativos provocados por uma dieta de estilo ocidental rica em gordura e açúcar, segundo artigo publicado na revista Brain Medicine. O estudo demonstrou que a atividade física reduz comportamentos semelhantes à depressão, destacando o papel de hormônios circulantes e metabólitos produzidos no intestino.
O Contexto da Pesquisa
A prevalência global do consumo de alimentos ultraprocessados preocupa pesquisadores pelo impacto negativo sobre saúde metabólica e mental. Estudos anteriores sugerem que dietas ocidentais podem elevar riscos de distúrbios de humor; porém, os mecanismos biológicos que condicionam a interação entre alimentação, exercício físico e bem-estar psíquico permaneciam pouco compreendidos. A equipe irlandesa buscou preencher esta lacuna ao investigar, em ratos adultos machos, como a prática voluntária de corrida modifica a resposta comportamental e metabólica a uma dieta altamente calórica.
Resultados e Metodologia
Ratos foram divididos entre dieta padrão e dieta do tipo cafeteria, composta por alimentos ricos em gordura e açúcar, durante sete semanas e meia. Metade de cada grupo teve acesso a uma roda de exercícios. A análise comportamental, hormonal e metabolômica revelou que o exercício mitigou sintomas de depressão induzidos pela dieta não saudável, mesmo sem alterar significativamente a performance cognitiva básica. A pesquisa detectou, por exemplar, que “a corrida voluntária gerou efeito antidepressivo mesmo nos animais submetidos à dieta rica em gordura, sugerindo benefícios da atividade física em diferentes contextos alimentares”.
(“voluntary running produced an antidepressant-like effect even when the rats consumed an unhealthy diet, suggesting that regular physical activity could benefit people who eat Western-style foods.”)
Dentre 175 metabólitos avaliados no conteúdo cecal — material do início do intestino grosso, relevante ao metabolismo microbiano — cem foram alterados pela dieta tipo cafeteria; a prática de exercícios restaurou parcialmente essa composição, especialmente de compostos como anserina, indol-3-carboxilato e deoxiinosina, associados à regulação do humor. Já no sangue, foram observadas elevações de insulina e leptina em animais sedentários sob dieta calórica, quadro atenuado pelo exercício físico. O estudo destacou também modificações em hormônios como GLP-1, PYY e FGF-21, associando o efeito do exercício à reprogramação hormonal e metabólica.
“O exercício apresenta efeito antidepressivo mesmo em contexto alimentar desfavorável, o que é uma boa notícia para quem tem dificuldade em mudar a dieta.”
(“exercise has an antidepressant-like effect in the wrong dietary context, which is good news for those who have trouble changing their diet.”)— Professor Julio Licinio et al., Editorial
Curiosamente, a dieta de cafeteria suprimiu o aumento típico da neurogênese (formação de novos neurônios) induzida por exercício no hipocampo, indicando influência do padrão alimentar sobre a plasticidade cerebral.
Implicações e Próximos Passos
Essas descobertas agregam complexidade ao entendimento sobre como hábitos de vida se refletem na saúde mental em tempos de acesso facilitado a produtos ultraprocessados. O estudo reforça que intervenções com atividade física oferecem benefícios comportamentais mesmo sem melhora alimentar imediata, embora as vantagens neurobiológicas plenas — como a neurogênese — possam depender de melhor qualidade nutricional.
Impõe-se, contudo, a necessidade de estudos futuros com modelos femininos, períodos de acompanhamento estendidos e abordagens dose-resposta para mapear adaptações metabólicas e cerebrais de longo prazo. Novos ensaios podem explorar a viabilidade de usar metabólitos como biomarcadores ou alvo terapêutico para transtornos do humor, diante do papel protetor identificado para anserina, indol-3-carboxilato e deoxiinosina.
“Este trabalho oferece um novo arcabouço biológico para compreender porque o exercício continua benéfico, mesmo quando mudanças alimentares são difíceis de implementar.”
(“this research provides a biological framework for understanding why exercise remains beneficial even when dietary improvements prove challenging to implement.”)— Professor Julio Licinio et al., Editorial
A pesquisa representa um avanço significativo nas ciências translacionais ao detalhar mecanismos moleculares e celulares que conectam dieta, exercício e saúde mental, podendo embasar intervenções futuras para mitigação dos efeitos do padrão alimentar moderno. Maior compreensão desses processos pode direcionar políticas públicas e estratégias clínicas, ampliando o alcance de medidas preventivas para transtornos mentais associados ao estilo de vida.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)