
Exeter — InkDesign News — Um relatório científico divulgado pela Universidade de Exeter em 13 de outubro alerta que a humanidade entrou em uma “nova realidade” climática, após a confirmação do primeiro ponto de inflexão crítico do sistema terrestre: o colapso dos recifes de corais tropicais. O documento, elaborado por 160 cientistas de 23 países, detalha riscos iminentes para ecossistemas globais e clama por ação urgente antes da COP30, que será realizada no Brasil.
O Contexto da Pesquisa
A pesquisa surge diante da intensificação dos impactos das mudanças climáticas globais. Nos últimos anos, cientistas vêm alertando sobre “pontos de inflexão” — limiares onde sistemas naturais sofrem danos abruptos e irreversíveis. O relatório, assinado por especialistas de 87 instituições globais, consolida evidências de que os recifes de corais tropicais ultrapassaram tal limite devido ao aquecimento global, representando o primeiro sistema perdido em escala planetária. Contextualiza-se, assim, a necessidade de rever com urgência políticas climáticas globais.
Resultados e Metodologia
O estudo mostra que recifes de corais, fundamentais para bilhões de pessoas e um quarto das espécies marinhas, já enfrentam mortalidade em massa, com possibilidade de sobrevivência apenas em refúgios isolados mediante intensa proteção. O aquecimento global, atualmente em torno de 1,4°C, já supera o limiar central (1,2°C) para colapso desses ecossistemas. Os autores alertam que outros pontos de inflexão — como o derretimento de camadas de gelo polares, colapso da circulação termoalina do Atlântico (AMOC) e declínio da Floresta Amazônica — estão perigosamente próximos, agravando riscos para a segurança alimentar, abastecimento de água e estabilidade climática global.
O relatório recomenda limitar rigorosamente qualquer “ultrapassagem” do limite de 1,5°C, já que cada fração acima disso aumenta perigos potencialmente catastróficos. Também propõe acelerar “pontos de inflexão positivos”, como a disseminação global de energias limpas. Uma análise detalhada do progresso mostra avanços acelerados em energia solar, eólica, veículos elétricos e bombas de calor, mas enfatiza que maior coordenação política é essencial para ampliar tais mudanças disruptivas.
“Estamos nos aproximando rapidamente de múltiplos pontos de inflexão no sistema terrestre que podem transformar nosso mundo, com consequências devastadoras para pessoas e para a natureza. Isso exige ação imediata e sem precedentes dos líderes na COP30 e dos formuladores de políticas em todo o mundo.”
(“We are rapidly approaching multiple Earth system tipping points that could transform our world, with devastating consequences for people and nature. This demands immediate, unprecedented action from leaders at COP30 and policymakers worldwide.”)— Tim Lenton, Professor, Global Systems Institute, Universidade de Exeter
“A situação dos recifes de corais deve ser um alerta de que, se não agirmos agora, perderemos também a Floresta Amazônica, as camadas de gelo e correntes oceânicas fundamentais, com consequências catastróficas para toda a humanidade.”
(“This grim situation must be a wake-up call that unless we act decisively now, we will also lose the Amazon rainforest, the ice sheets and vital ocean currents. In that scenario we would be looking at a truly catastrophic outcome for all humanity.”)— Mike Barrett, Conselheiro Científico Chefe, WWF-UK
Implicações e Próximos Passos
O relatório aponta que, enquanto políticas públicas ainda não contemplam adequadamente a natureza abrupta e interligada desses riscos, líderes internacionais devem antecipar medidas adaptativas e reforçar a remoção de carbono atmosférico. Destaca-se a proposta do “Global Mutirão” da presidência da COP30, reunindo ciência e sabedoria ancestral na elaboração de soluções dinâmicas e inclusivas, incluindo governança voltada à restauração ecológica e justiça social.
Esforços para identificar e disparar mais “pontos de inflexão positivos” são indicados como essenciais: restauração de ecossistemas, consumo sustentável e cadeias produtivas livres de desmatamento podem favorecer uma trajetória de recuperação ambiental. Para especialistas, o êxito exige menor polarização social e estímulo à inovação acessível.
O futuro do campo depende da capacidade de traduzir evidências científicas em políticas globais rápidas e integradas, fundamentadas em análises de risco e mecanismos de reparação por perdas e danos. Os avanços dependerão da mobilização coordenada entre governos, setor privado e sociedade civil.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)