
Milão — InkDesign News — Pesquisadores italianos apresentaram novos dados mostrando que ratos jovens alimentados com uma dieta cetogênica após o desmame ficam praticamente protegidos dos efeitos psicológicos duradouros do estresse pré-natal. O estudo, divulgado na ECNP Conference, em Amsterdã, pode abrir caminho para intervenções alimentares preventivas em saúde mental.
O Contexto da Pesquisa
Pesquisas anteriores já demonstraram que o estresse vivenciado por mães durante a gestação pode resultar em problemas psicológicos e de desenvolvimento persistentes na prole. Os transtornos de humor e sociais relacionados com adversidades infantis são questões centrais em psiquiatria preventiva, com enorme impacto social e econômico.
Resultados e Metodologia
No experimento conduzido pela equipe da Universidade de Milão, ratas grávidas foram submetidas a estresse na última semana de gestação. Após o desmame, os filhotes receberam ou uma dieta padrão, ou uma dieta cetogênica — caracterizada por alto teor de gordura e baixa ingestão de carboidratos. Aos 42 dias de vida, os animais foram submetidos a avaliações de déficits comportamentais associados ao estresse, como baixa sociabilidade e anedonia (falta de interesse pelo ambiente).
Entre os ratos alimentados com dieta padrão, 50% dos descendentes de mães estressadas apresentaram problemas relacionados ao estresse mais tarde. No grupo alimentado com dieta cetogênica, apenas 22% dos machos e 12% das fêmeas desenvolveram esses déficits. Análises mostraram que machos se beneficiaram por mecanismos ligados à redução de inflamação, enquanto as fêmeas experimentaram aumento das defesas antioxidantes.
“We discovered that feeding young rats a ketogenic diet — a high-fat, very low-carbohydrate regimen — right after weaning almost completely protected them from the lasting effects of stress they’d experienced before birth. The diet seems to have acted like a shield for their developing brains, so preventing social and motivational problems from ever taking root.”
(“Descobrimos que alimentar ratos jovens com uma dieta cetogênica — rica em gordura e muito pobre em carboidratos — logo após o desmame praticamente os protegeu dos efeitos duradouros do estresse vivido antes do nascimento. A dieta parece ter atuado como um escudo para seus cérebros em desenvolvimento, impedindo o surgimento de problemas sociais e motivacionais.”)— Dra. Alessia Marchesin, Universidade de Milão
A pesquisadora ressalta, no entanto, possíveis limitações: o crescimento dos animais sob dieta cetogênica foi mais lento, levantando a hipótese de que parte dos benefícios seja atribuível à menor ingestão calórica, e não apenas à dieta em si.
Implicações e Próximos Passos
Os resultados destacam o potencial de intervenções precoces via alimentação no combate a transtornos psiquiátricos de origem infantil. A observação de mecanismos sexuais distintos sugere oportunidades para personalização terapêutica. Porém, a transposição para humanos exige cautela.
“This work nicely contributes further to the nascent field of Nutritional Psychiatry. … It will be intriguing to further explore what are the biological processes involved in these beneficial effects and if such effects are sex specific.”
(“Este trabalho contribui de forma relevante para o emergente campo da Psiquiatria Nutricional. … Será interessante explorar mais a fundo os processos biológicos envolvidos nesses efeitos benéficos e se eles são específicos para cada sexo.”)— Dra. Aniko Korosi, Professora Associada, Universidade de Amsterdã
A médio prazo, investigações adicionais devem focar em garantir segurança, dosagem ideal e compreender os efeitos a longo prazo de dietas cetogênicas em humanos, especialmente durante períodos críticos do desenvolvimento. A singularidade dos resultados conforme o sexo aponta para uma nova fronteira na psiquiatria personalizada baseada em biomarcadores nutricionais.
Ao final, as descobertas trazem esperança de avanços concretos para a prevenção primária de transtornos psiquiátricos, porém, como alertam os próprios especialistas, fundamentos científicos robustos e estudos clínicos humanos serão decisivos para transformar essa promessa em prática.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)