Descoberta revela compostos que reparam dano da esclerose múltipla

Riverside, Califórnia — InkDesign News — Dois compostos promissores capazes de estimular a reparação da bainha de mielina, lesada pela esclerose múltipla, foram identificados por uma equipe interdisciplinar, em um trabalho de mais de uma década liderado pela Universidade da Califórnia, Riverside, com publicação destacada na Scientific Reports.
O Contexto da Pesquisa
A esclerose múltipla (EM), doença autoimune que afeta cerca de 2,9 milhões de pessoas em todo o mundo, é caracterizada pelo ataque do sistema imunológico à bainha de mielina que protege as fibras nervosas. Isso interrompe a comunicação entre cérebro e corpo, provocando sintomas como dormência, distúrbios visuais e até paralisia. Enquanto tratamentos disponíveis atualmente se concentram em reduzir a inflamação, ainda não havia terapias aprovadas que favorecessem a proteção dos neurônios ou regenerassem a mielina danificada.
Resultados e Metodologia
A pesquisa, financiada pela National Multiple Sclerosis Society através de iniciativas focadas em inovação e comercialização acelerada, resultou em mais de sessenta derivados do composto indazole cloreto sendo testados. Esses testes visavam identificar moléculas com maior potencial médico e comercial. O grupo, liderado por Seema Tiwari-Woodruff e John Katzenellenbogen, ao lado de químicos da Universidade de Illinois Urbana-Champaign, identificou dois candidatos principais, K102 e K110, que apresentaram melhores perfis de segurança e eficácia em modelos murinos e em células humanas.
K102 destacou-se como o principal candidato ao estimular a reparação da mielina e ajudar na regulação da atividade imunológica, um equilíbrio essencial no tratamento da EM. Os testes utilizaram oligodendrócitos humanos, fundamentais na produção de mielina, gerados a partir de células-tronco pluripotentes induzidas, sinalizando alta probabilidade de translação clínica dos resultados.
“Nossos trabalhos representam mais de uma década de colaboração, com os últimos quatro anos dedicados à identificação e otimização de novos candidatos a medicamentos com forte potencial para tratar a esclerose múltipla e possivelmente outras doenças neurológicas envolvendo desmielinização.”
(“Our work represents more than a decade of collaboration, with the last four years focused on identifying and optimizing new drug candidates that show strong potential to treat MS and possibly other neurological diseases involving demyelination.”)— Seema Tiwari-Woodruff, Professora, Universidade da Califórnia em Riverside
Implicações e Próximos Passos
A transferência da tecnologia dos laboratórios para a startup Cadenza Bio foi viabilizada pelo programa Fast Forward da National MS Society, que impulsiona parcerias entre academia e indústria. A empresa agora detém licença exclusiva para desenvolver K102 e K110, e prepara os compostos para testes clínicos em humanos.
“Este projeto é um bom exemplo de como colaborações acadêmicas de longa data podem gerar aplicações no mundo real. Nosso objetivo sempre foi transformar uma ideia promissora em uma terapia.”
(“This project has been a good example of how long-standing academic collaborations can lead to real-world applications. Our shared goal was always to take a promising idea and develop it into a therapy that could help people with MS.”)— John Katzenellenbogen, Professor de Química, Universidade de Illinois Urbana-Champaign
Inicialmente focadas na esclerose múltipla, as moléculas poderão futuramente ser estudadas para tratar outras condições associadas a danos neuronais, como acidente vascular cerebral e lesões traumáticas do sistema nervoso central. Segundo Cadenza Bio, os estudos pré-clínicos estão avançando para solicitar aprovação de testes em humanos.
A pesquisa contou ainda com apoio dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA e com colaboração multidisciplinar envolvendo especialistas de várias instituições.
O avanço destas moléculas representa, para a comunidade científica e para pacientes, uma esperança concreta de tratamentos que não apenas retardam, mas revertam os danos da esclerose múltipla. Se comprovada a segurança, a translação dos resultados do laboratório ao tratamento clínico pode transformar paradigmas no manejo da doença e de outras degenerações neuronais.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)