
Miami — InkDesign News —
Pesquisadores norte-americanos descobriram, em estudo publicado recentemente, uma possível ligação entre toxinas produzidas por cianobactérias e o desenvolvimento de doença semelhante ao Alzheimer em golfinhos encalhados na Flórida. A pesquisa, realizada em 2024, alerta para riscos ambientais e de saúde pública associados à proliferação dessas microalgas.
O Contexto da Pesquisa
Cientistas há décadas buscam entender por que cetáceos, como golfinhos e baleias, frequentemente se encalham, muitos deles já sem vida nas praias. Hipóteses anteriores destacaram causas variadas — desde doenças infecciosas a desorientação por poluição sonora. Entretanto, as evidências mais recentes indicam que o contato prolongado com toxinas de cianobactérias pode comprometer suas funções cognitivas, de modo semelhante ao que se observa em humanos diagnosticados com demência de Alzheimer.
Resultados e Metodologia
O estudo envolveu a análise dos cérebros de vinte golfinhos-nariz-de-garrafa encontrados ao longo da Indian River Lagoon, na Flórida. Os pesquisadores identificaram níveis elevados de β-N-metilamino-L-alanina (BMAA) e compostos relacionados, especialmente o 2,4-Diaminobutírico (2,4-DAB), em animais encalhados nos períodos de florescimento acentuado das cianobactérias. Em alguns casos, a concentração desses compostos chegou a ser 2.900 vezes maior que a registrada em animais encalhados fora dos períodos críticos.
As autópsias revelaram lesões cerebrais comparáveis às de pacientes humanos com Alzheimer, incluindo placas de β-amilóide, proteínas tau hiperfosforiladas e inclusões TDP-43 — marcador de formas mais agressivas da doença. Além disso, foram observados 536 genes com expressão compatível com quadros de demência.
“Como os golfinhos são considerados sentinelas ambientais para exposições tóxicas em ambientes marinhos, há preocupações sobre possíveis impactos dessas toxinas também na saúde humana.”
(“Since dolphins are considered environmental sentinels for toxic exposures in marine environments, there are concerns about human health issues associated with cyanobacterial blooms.”)— Dr. David Davis, Miller School of Medicine, Universidade de Miami
Experimentos envolvendo populações humanas, como moradores de Guam, já mostraram relação entre o consumo regular dessas toxinas e alterações cerebrais semelhantes às do Alzheimer.
Implicações e Próximos Passos
Os pesquisadores observam que a intensificação das florações de cianobactérias — impulsionadas pelo aquecimento global e pelo despejo de nutrientes de origem agrícola e esgoto — pode aumentar ainda mais os riscos tanto para animais marinhos quanto para humanos. Em 2024, o Condado de Miami-Dade registrou a maior prevalência de Alzheimer nos Estados Unidos, fato que intensifica a preocupação sobre fatores ambientais.
“Entre os habitantes de Guam, a exposição às toxinas das cianobactérias pareceu desencadear doenças neurológicas.”
(“Among Guam villagers, exposure to cyanobacterial toxins appeared to trigger neurological disease.”)— Dr. Paul Alan Cox, Brain Chemistry Labs, Jackson Hole
O avanço dessa linha de pesquisa pode fornecer subsídios fundamentais para políticas públicas de monitoramento ambiental e para a implementação de medidas preventivas, visando controlar o despejo de nutrientes em ecossistemas aquáticos.
No horizonte científico, especialistas recomendam esforços multidisciplinares para investigar outros impactos das cianotoxinas e estudar intervenções que possam prevenir doenças neurodegenerativas relacionadas a fatores ambientais.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)