
Londres — InkDesign News — Uma pesquisa conduzida por cientistas da Universidade de Cambridge revelou que, para algumas aves, a influência dos irmãos pode superar a dos próprios pais no processo de aprendizagem. O estudo, publicado na revista PLOS Biology em junho de 2024, investigou como filhotes da espécie Parus major — conhecidos como chapins-reais — adquirem habilidades essenciais durante as primeiras semanas fora do ninho.
O Contexto da Pesquisa
Embora a transmissão de conhecimento em mamíferos, especialmente em humanos, seja amplamente estudada em ambientes de prolongado cuidado parental, pouco se sabe sobre o aprendizado social quando essa convivência é restrita. Os pesquisadores buscaram entender se, em situações de contato parental limitado, os irmãos e outros adultos da comunidade se tornam as principais referências comportamentais para os jovens animais.
Muita do que sabemos sobre aprendizado social em juvenis advém de espécies com longos períodos de cuidado parental, incluindo humanos. Mas o que acontece com a transferência de conhecimento quando o cuidado dos pais é limitado?
(“Much of our knowledge about social learning in juveniles stems from species with extended periods of parental care, including humans. A lot of learning occurs from parents because offspring and parents spend so much time together. But what happens with knowledge transfer when parental care is limited?”)— Sonja Wild, Ecóloga Comportamental, Universidade de Cambridge
Resultados e Metodologia
Durante dez semanas, 51 pares reprodutores e 229 filhotes foram monitorados em um experimento no qual precisavam resolver um quebra-cabeça de alimentação automática para acessar larvas de tenébrios (mealworms). Os filhotes tiveram aproximadamente dez dias de cuidado parental antes de buscar independência e aprendizado social adicional.
Segundo o estudo, cerca de 75% dos “primeiros solucionadores” conseguiam desvendar o quebra-cabeça ao observar adultos que não eram seus pais, enquanto apenas 25% aprenderam diretamente com seus genitores. A influência dos irmãos se revelou ainda mais notória: 94% dos demais filhotes solucionaram a tarefa a partir de observações ou interações com irmãos próximos.
Quando deixam o ninho, eles não sabem nada. Não conseguem se alimentar sozinhos ou encontrar abrigo. Só têm cerca de dez dias de cuidado parental para aprender tudo. Eles seguem os pais e continuam pedindo comida, mas os pais se afastam porque estão exaustos.
(“When they leave the nest, they know nothing. They can’t feed themselves or find shelter. All they have is about 10 days of parental care to figure everything out. The offspring would like to extend that time. They follow their parents around and keep begging, but the parents are exhausted and start pulling back.”)— Sonja Wild, Ecóloga Comportamental, Universidade de Cambridge
A pesquisa também observou padrões consistentes de aprendizagem colaborativa, com centenas de interações entre irmãos e adultos registrados automaticamente pelas caixas de alimentação, totalizando dezenas de milhares de resoluções de problemas analisadas.
Implicações e Próximos Passos
Os resultados sugerem a existência de “culturas animais” diversificadas, nas quais várias fontes contribuem para a transmissão de técnicas de sobrevivência e inovação comportamental. Segundo Wild, espécies com múltiplos modelos de referência social estão mais preparadas para lidar com desafios ambientais e menor risco de extinção.
“A diversidade de culturas animais aumenta a resiliência das populações diante de mudanças ambientais”, comenta Wild, ressaltando a importância da observação detalhada dessas interações para estratégias de conservação de biodiversidade.
Novos estudos pretendem explorar como estratégias de aprendizado social entre irmãos e adultos não aparentados se manifestam em outras espécies e ambientes. O mapeamento desse comportamento pode orientar iniciativas de conservação e sugerir abordagens inovadoras para o manejo de fauna em risco.
Fonte: (Popular Science – Ciência)