
Sinal gravitacional anômalo revela processos ocultos nas profundezas da Terra
Paris — InkDesign News — Uma equipe internacional de cientistas identificou, ao analisar dados de satélites, um estranho sinal gravitacional detectado sobre o Atlântico oriental próximo à costa da África, registrado entre 2006 e 2008. O achado, publicado na revista Geophysical Research Letters, sugere um processo geológico profundo desconhecido até então.
O Contexto da Pesquisa
O estudo, liderado por geofísicos do Centre National d’Études Spatiales (CNES), na França, propõe explicações para uma anomalia gravitacional de grande extensão, identificada através dos satélites GRACE – missão conjunta da NASA e do Centro Aeroespacial Alemão (DLR). O fenômeno coincidiu com uma alteração abrupta no campo magnético terrestre, denominada “geomagnetic jerk”, levando a hipóteses de mudança súbita na distribuição de massa nas camadas internas do planeta.
Até então, conhecia-se que variações gravitacionais eram, em geral, resultado de deslocamentos de água ou massas superficiais. A análise recente, contudo, aponta para uma origem mais profunda — especificamente na movimentação mineralógica entre o manto inferior e o núcleo externo da Terra.
Resultados e Metodologia
Os dados, coletados pelos satélites GRACE entre 2003 e 2015, revelaram uma anomalia gravitacional orientada no eixo norte-sul, com cerca de 7.000 km de extensão (próxima ao comprimento do continente africano). A anomalia coincidiu em 2007 com o anúncio do primeiro iPhone, mas sem qualquer relação causal entre os eventos.
“Como ocorre frequentemente na pesquisa científica, minha resposta inicial foi de questionamento: o sinal é genuíno, como pode ser validado, e como deveria ser interpretado?”
(“As is often the case in scientific research, my initial response was one of questioning: is the signal genuine, how can it be validated, and how should it be interpreted?”)— Mioara Mandea, Geofísica, Centre National d’Études Spatiales (CNES)
Os pesquisadores atribuíram o fenômeno a uma mudança de fase mineralógica do silicato de magnésio (MgSiO3), de perovskita para pós-perovskita, no manto inferior, provocando redistribuição rápida de massa e alteração detectável no campo gravitacional. A análise descartou influência de correntes oceânicas ou deslocamentos superficiais, focando nos processos de pressão extrema nas regiões profundas da crosta.
Implicações e Próximos Passos
As conclusões do estudo agregam dados inéditos à compreensão da dinâmica interna do planeta, especialmente na interface entre o manto e o núcleo externo, regiões hoje exploradas majoritariamente por métodos indiretos. Tais descobertas ampliam o entendimento sobre o comportamento do campo gravitacional e magnético terrestre, elementos-chave para interpretações sobre a evolução geológica e climática global.
“A Terra é um sistema complexo que deve ser estudado por meio de diversos conjuntos de dados e métodos complementares de análise. Essa sinergia nos permite desvendar e compreender melhor processos ocultos no interior profundo do planeta.”
(“Earth is a complex system that must be studied using diverse datasets and complementary methods of analysis. This synergy gives us the opportunity to uncover and better understand hidden processes in the Earth’s deep interior.”)— Mioara Mandea, Geofísica, Centre National d’Études Spatiales (CNES)
Para os próximos anos, a equipe pretende integrar dados gravitacionais a outras leituras geofísicas, visando refinar modelos sobre as condições extremas do manto e sua influência nas propriedades globais do planeta. Especialistas sugerem que estudos como este podem fornecer subsídios à compreensão de sismos, vulcanismo profundo e evolução do campo magnético terrestre.
Os próximos desdobramentos devem envolver a ampliação das bases de dados disponíveis por missões satelitais e o desenvolvimento de metodologias de cruzamento entre sinais gravitacionais, sísmicos e eletromagnéticos, garantindo maior precisão na representação dos processos escondidos sob a crosta.