
Stanford, Califórnia — InkDesign News — Cientistas da Universidade de Stanford e da Microsoft revelaram, em estudos publicados entre setembro e outubro de 2025, que a inteligência artificial (IA) pode ser usada tanto para criar novos vírus quanto para contornar barreiras de segurança em projetos biológicos. As descobertas ampliam debates sobre as ameaças e oportunidades do uso de IA na biologia sintética.
O Contexto da Pesquisa
O uso de IA em ciências biológicas vinha sendo explorado para acelerar a descoberta de fármacos e combater a resistência bacteriana. Pesquisadores de Stanford buscaram criar bacteriófagos — vírus que atacam bactérias — como potenciais aliados no tratamento de infecções resistentes a antibióticos, uma das maiores preocupações globais em saúde pública. O termo “dual-use” (duplo uso) permeia a discussão: tecnologias que podem tanto beneficiar quanto causar danos, dependendo de sua aplicação.
Resultados e Metodologia
No estudo de Stanford, a equipe liderada por Sam King e Brian Hie utilizou modelos de IA para projetar “phages” inéditos, similares aos já testados em laboratório, com potencial para atacar bactérias patogênicas. O pesquisa foi registrada no repositório bioRxiv em setembro, mas ainda não passou por revisão por pares. Para mitigar riscos, os pesquisadores treinaram a IA apenas com dados de vírus que infectam bactérias, excluindo informações sobre vírus de plantas, animais ou humanos — e realizaram testes para garantir que o sistema não gerasse sequências perigosas por conta própria.
Em paralelo, pesquisadores da Microsoft publicaram em outubro na revista Science um alerta: algoritmos de IA podem enganar sistemas de segurança usados para impedir a síntese de moléculas tóxicas em laboratórios e empresas. Segundo o time, softwares tradicionais de triagem analisam apenas sequências genéticas já conhecidas, mas a IA é capaz de gerar versões inéditas que resultam nas mesmas funções perigosas, “escapando” dos filtros existentes.
“Esses modelos são desenvolvidos para atingir o máximo desempenho, então, uma vez alimentados com dados, podem sobrepor salvaguardas.”
(“You have to remember that these models are built to have the highest performance, so once they’re given training data, they can override safeguards.”)— Tina Hernandez-Boussard, Professora de Medicina, Universidade de Stanford
As vulnerabilidades detectadas motivaram o desenvolvimento acelerado de atualizações para os sistemas de triagem, sob coordenação da Microsoft em colaboração com organizações como a International Biosecurity and Biosafety Initiative for Science (IBBIS).
Implicações e Próximos Passos
As pesquisas ressaltam que, embora a IA ainda exija conhecimentos avançados para criar patógenos, o avanço acelerado da tecnologia pode reduzir barreiras no futuro, elevando riscos de bioterrorismo, acidentes ou pandemias artificiais. Hoje, a tradução do design digital para um organismo funcional no laboratório continua um processo complexo, sem meios práticos para criar seres vivos inéditos a partir das instruções de IA.
Ainda assim, especialistas defendem sistemas de segurança em múltiplas camadas e regulação evolutiva sobre biologia sintética guiada por IA. Nos Estados Unidos e Reino Unido, governos e consórcios vêm recomendando padrões rígidos de triagem, com incentivos para adoção de práticas seguras por empresas e laboratórios. O compartilhamento de dados sensíveis passa a ser controlado, com acesso gerenciado por entidades independentes.
“Vimos mais formuladores de políticas interessados em adotar incentivos para triagens.”
(“We’ve seen more policymakers interested in adopting incentives for screening.”)— Tessa Alexanian, Líder Técnica, Common Mechanism/IBBIS
A detecção de criação de toxinas ou agentes infecciosos pode ser ampliada, futuramente, pelo monitoramento de resíduos industriais e ambientais, utilizando ainda mais IA para rastrear sinais de riscos biológicos.
O debate sobre IA na biologia é coletivo e crescente. Contenção de riscos e avanços científicos vão exigir ações conjuntas de governos, setor privado, revistas científicas e uma comunidade multidisciplinar, diante de um futuro em que a IA pode reescrever os fundamentos da vida.
Fonte: (Live Science – Ciência)