
Santiago de Compostela — InkDesign News — Astrônomos da Universidade da Corunha, na Espanha, conduziram um novo estudo sobre a origem do cometa interestelar 3I/ATLAS, que atualmente cruza o Sistema Solar em uma rara visita. A pesquisa sugere que o objeto pode ser um remanescente antigo dos primórdios da Via Láctea, com idade superior à do próprio Sol.
O Contexto da Pesquisa
O cometa 3I/ATLAS foi avistado pela primeira vez em junho e, em julho, sua natureza interestelar foi confirmada por observações da NASA. Trata-se apenas do terceiro objeto de fora do Sistema Solar identificado até hoje, após 1I/‘Oumuamua e 2I/Borisov, e é considerado o maior já detectado, com estimativa de diâmetro entre 4,8 e 11,2 quilômetros.
O estudo publicado recentemente, apoiado por dados da missão Gaia da Agência Espacial Europeia, buscou rastrear o percurso do cometa ao longo dos últimos 4,27 milhões de anos. O objetivo era identificar possíveis estrelas vizinhas capazes de ter alterado significativamente sua trajetória, ajudando a determinar sua região de origem.
Resultados e Metodologia
A equipe utilizou informações de alta precisão sobre movimento, velocidade e massa de 62 estrelas próximas, reconstruindo o trajeto do 3I/ATLAS por milhões de anos. A conclusão principal é que nenhuma dessas estrelas teve impacto relevante sobre o objeto, o que descarta a hipótese de que tenha se originado na vizinhança solar.
“Nenhuma das estrelas da vizinhança solar pode explicar a trajetória e alta velocidade de 3I/ATLAS.”
(“We have found that none of the stars in the solar neighborhood can explain the trajectory and high velocity of 3I/ATLAS.”)— Xabier Pérez-Couto, estudante de pós-graduação em Astrofísica, Universidade da Corunha
Segundo o estudo, a hipótese mais plausível é que o cometa provenha da fronteira entre o disco fino e o disco grosso da Via Láctea. O disco fino abriga a maioria dos astros jovens, enquanto o disco grosso, mais antigo e pobre em metais pesados, cessou a formação estelar há bilhões de anos.
“3I/ATLAS é um objeto muito antigo, que viaja há bilhões de anos, e sua origem pertence à borda do disco fino.”
(“3I/ATLAS is a very old object, that has been traveling for [billions of years], and that its origin belongs to the border of the thin disk.”)— Xabier Pérez-Couto, estudante de pós-graduação em Astrofísica, Universidade da Corunha
Implicações e Próximos Passos
Caso o 3I/ATLAS tenha se formado na transição entre os dois discos galácticos, pode conter material preservado desde a formação inicial da Via Láctea, sendo possivelmente mais que o dobro da idade do Sol (cerca de 10 bilhões de anos). Isso o transforma em uma valiosa cápsula do tempo, oferecendo pistas únicas sobre a evolução tanto do Sistema Solar quanto da galáxia.
No entanto, os autores enfatizam as limitações do estudo, já que a análise só consegue reconstituir parte da longa história do objeto. Observações futuras com instrumentos localizados na Terra, em Marte e em órbita de Júpiter prometem revelar mais detalhes sobre sua composição e origem.
O avanço das pesquisas sobre objetos interestelares como o 3I/ATLAS poderá abrir novas perspectivas para o entendimento da história e estrutura da Via Láctea, além de contribuir para a busca de componentes essenciais à vida em outras regiões do cosmos.
Fonte: (Live Science – Ciência)