
Tóquio — InkDesign News — Um grupo liderado pelo Dr. Shinichi Furuya, do NeuroPiano Institute e do Sony Computer Science Laboratories, anunciou em 22 de setembro de 2025, um estudo que, pela primeira vez, elucidou cientificamente como a manipulação das teclas pelos pianistas altera o timbre do piano, segundo artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
O Contexto da Pesquisa
A capacidade de criar diferentes experiências perceptivas é central para a criatividade nas artes. Apesar de músicos acreditarem, há mais de um século, que pianistas poderiam alterar o timbre apenas pelo toque, carecia-se de comprovação científica para essa teoria — discussão que remonta a artigos publicados na Nature ainda no início do século XX. O domínio das habilidades motoras que produzem diversas percepções é considerado fundamental não apenas para a música, mas para áreas como cirurgia e artesanato. O estudo buscou responder se, de fato, é possível modificar o timbre em execução e quais habilidades físicas seriam necessárias para tal domínio.
Resultados e Metodologia
Para investigar a questão, a equipe desenvolveu um sistema exclusivo chamado Hackkey, capaz de medir o movimento de todas as 88 teclas do piano com precisão temporal de 1.000 quadros por segundo e resolução espacial de 0,01 mm. Vinte pianistas internacionalmente reconhecidos participaram do experimento executando timbres contrastantes, como “brilhante/escuro” e “leve/pesado”. O estudo também envolveu 40 ouvintes — entre pianistas e pessoas sem experiência musical —, que julgaram as gravações. Os resultados indicaram que a intenção tímbrica dos pianistas foi percebida de modo consistente por todos os ouvintes, independentemente do nível de formação.
“As qualidades tímbricas que os pianistas pretendiam expressar foram transmitidas aos ouvintes, sendo detectadas mesmo por quem não era músico”
(“The timbral qualities pianists intended to express were conveyed to listeners, and were detected even by non-musicians”)— Dr. Shinichi Furuya, NeuroPiano Institute/Sony CSL
Por meio de modelos estatísticos avançados, notou-se que poucas características do movimento das teclas — como a aceleração durante o escapement (momento em que o martelo se afasta da corda) e a sincronização das mãos — são determinantes na percepção do timbre. Mudanças isoladas nesses componentes foram suficientes para alterar o timbre percebido, evidenciando uma relação causal, e não metafórica, entre movimento e timbre.
“Esta pesquisa fornece uma base técnica para apoiar a criatividade artística, ao quantificar conhecimentos tácitos de como o timbre é produzido no piano”
(“This research provides a technical foundation to support artistic creativity, by quantifying the tacit knowledge of timbre production on the piano”)— Dr. Shinichi Furuya, NeuroPiano Institute/Sony CSL
Implicações e Próximos Passos
O estudo abre caminho para que métodos de ensino baseados em evidências possam recomendar padrões precisos de movimento corporal, além de ajudar a prevenir lesões decorrentes da prática inadequada. As descobertas sugerem possibilidades para a visualização e ensino dessas técnicas, contribuindo, inclusive, na transferência de habilidades motoras para campos como reabilitação, interfaces homem-máquina e outras artes performáticas.
Especialistas preveem que futuras investigações aprofundarão o papel da percepção tímbrica e de informações perceptivas de maior ordem, decodificando como cérebro e corpo integram sensações e movimentos na criação de experiências estéticas.
O envolvimento científico e tecnológico no aprendizado musical ainda é recente, mas esta pesquisa indica que, assim como no esporte e na medicina, evidências robustas podem libertar músicos de limitações físicas e mentais, criando caminhos inovadores para o ensino da performance criativa.
No horizonte, espera-se que os próximos estudos desta linhagem ampliem a compreensão neuronal dos fenômenos estudados, desenvolvendo métodos ainda mais eficazes de prática e ensino, inclusive para outras disciplinas motoras e criativas.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)