
Shanghai — InkDesign News — Uma equipe internacional de pesquisadores, liderada pelo Dr. An Tao do Observatório Astronômico de Xangai da Academia Chinesa de Ciências, identificou o que pode ser o caso mais convincente de um buraco negro errante em uma galáxia anã, descoberta publicada em 4 de setembro na Science Bulletin. A cerca de 230 milhões de anos-luz da Terra, o fenômeno desafia conceitos consagrados sobre onde esses objetos massivos habitam o universo.
O Contexto da Pesquisa
A visão predominante entre astrônomos há décadas era de que os buracos negros, especialmente os massivos, tendem a se localizar no centro das galáxias, funcionando como motores gravitacionais. No entanto, observações recentes sugerem que nem todos seguem essa regra. Estudos teóricos preveem que processos como fusões galácticas ou interações gravitacionais múltiplas podem desalojar buracos negros das regiões centrais, fenômeno potencializado em galáxias anãs — estruturas de massa reduzida e histórico evolutivo mais simples. Estes verdadeiros “fósseis cósmicos” podem conter pistas cruciais sobre a rápida evolução dos buracos negros no universo inicial.
Resultados e Metodologia
A equipe concentrou-se na galáxia anã MaNGA 12772-12704, utilizando dados do survey MaNGA e observações do Very Long Baseline Array (VLBA), cobrindo frequências de 1,6 e 4,9 GHz. Os dados revelaram uma emissão de rádio deslocada em quase um kiloparsec do núcleo galáctico, além de um núcleo compacto de alta luminosidade e evidências de jatos de rádio de extensão parsecal — sinais inequívocos de atividade de núcleo galáctico ativo (AGN).
Ao analisarem registros cobrindo três décadas (1993–2023), os cientistas observaram variações irregulares de brilho, comportamento típico do processo de acreção constante em um buraco negro. Tal padrão difere da tendência monotonicamente decrescente de remanescentes de supernovas, descartando possíveis “impostores”. A massa desse buraco negro foi estimada em cerca de 300 mil massas solares, classificando-o como um buraco negro de massa intermediária (IMBH).
“Trata-se de um farol cósmico aceso por um buraco negro errante; embora afastado do centro galáctico, segue brilhando com energia poderosa.”
(“This is like a cosmic lighthouse lit by a wandering black hole, although it has strayed from the galactic center, it still shines outward with powerful energy.”)— Liu Yuanqi, Co-autor do estudo, Observatório Astronômico de Xangai
Segundo os pesquisadores, entre mais de 3.000 galáxias anãs pesquisadas, apenas MaNGA 12772-12704 preencheu todos os critérios de confirmação: núcleo compacto de alto brilho, jatos com extensão parsecal e variabilidade sustentada por décadas, garantindo robustez ao achado.
Implicações e Próximos Passos
A descoberta desafia paradigmas estabelecidos sobre a formação e crescimento de buracos negros supermassivos. Demonstrando que a acreção e emissão de jatos pode ocorrer fora dos núcleos galácticos, o estudo sugere que o crescimento desses objetos não é restrito ao centro das galáxias. O resultado corrobora a teoria de que a alimentação distribuída e o crescimento em múltiplos locais podem ter contribuído para o surgimento de buracos negros supermassivos no universo primitivo.
“Em galáxias anãs especialmente, é extremamente difícil obter evidências observacionais claras para AGNs errantes.”
(“In dwarf galaxies especially, it is extremely difficult to obtain clear observational evidence for wandering AGN.”)— Mar Mezcua, Co-autora do estudo, Instituto de Ciências do Espaço, Espanha
Com a próxima geração de telescópios ópticos e radioastronômicos — como a matriz FAST e o Square Kilometre Array — os cientistas esperam detectar sinais ainda mais tênues de emissores radioativos, ampliando o inventário desses buracos negros “invisíveis”.
O avanço abre perspectivas para revisitar teorias de coevolução galáxia-buraco negro e mapeia um cenário em que esses objetos errantes podem atuar silenciosamente na dinâmica estelar e na formação de galáxias, mesmo em suas periferias.
À medida que novas tecnologias ampliam nossa visão, a expectativa é que casos como o relatado se tornem menos raros, impulsionando uma reavaliação ampla dos processos que moldam a evolução cósmica.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)