
Contexto da descoberta
O estudo, conduzido por uma equipe liderada pela estudante de pós-graduação Eleanor Moreland da Rice University, analisou mais de 90.000 análises químicas coletadas pelo rover Perseverance, utilizando o instrumento Planetary Instrument for X-ray Lithochemistry (PIXL). As interações dos minerais detectados na cratera com diversos tipos de fluidos são consideradas fundamentais para entender a história geológica de Marte.
Métodos e resultados
Os pesquisadores utilizaram o algoritmo Mineral Identification by Stoichiometry (MIST) para interpretar os dados do PIXL. A abordagem consistiu em bombardear as rochas marcianas com raios-X, um método que possibilitou medições geológicas sem precedentes em outro planeta. “Os minerais encontrados na cratera Jezero usando MIST suportam múltiplos episódios temporais de alteração por fluidos, indicando que houve várias ocasiões na história de Marte quando essas rochas interagiram com água líquida”, afirma Moreland.
A pesquisa identificou 24 espécies minerais, evidenciando a natureza vulcânica da superfície marciana e suas interações hídricas. Os minerais documentados apontam para três categorias de fluidos, com diferentes implicações para a habitabilidade em Marte.
A primeira categoría envolve fluidos ácidos de alta temperatura, identificados apenas no fundo da cratera. Esses minerais, como a greenalite e a hisingerite, sugerem condições hostis à vida. Embora os ambientes quentes e ácidos possam parecer inóspitos, a pesquisa terrestre aponta que a vida pode persistir em ambientes extremos.
“Essas condições quentes e ácidas seriam as mais desafiadoras para a vida.”
(“These hot, acidic conditions would be the most challenging for life.”)— Kirsten Siebach, Pesquisadora, Rice University
A segunda categoria de minerais indicam fluidos neutros, que criaram condições mais favoráveis à vida, enquanto a terceira representa fluidos alcalinos de baixa temperatura, considerados bastante habitáveis. A presença de sepiolite, um mineral comum de alteração na Terra, ilustra um evento amplo de água líquida que gerou condições ideais em diversos locais da cratera.
Implicações e próximos passos
O modelo de incerteza desenvolvido pela equipe fortalece os resultados, permitindo que os pesquisadores atribuam níveis de confiança a cada identificação mineral. Isso é crucial, uma vez que as amostras de Marte não podem ser analisadas com a mesma precisão que as da Terra. “Nosso modelo de análise de erros permite determinar a confiabilidade de cada correspondência mineral”, explica Moreland.
Os resultados destacam que a cratera Jezero, que já hospedou um lago antigo, passou por uma complexa e dinâmica história aquosa. Cada nova descoberta mineral aproxima os cientistas da resposta à pergunta se Marte já abrigou vida e direciona a estratégia do Perseverance na coleta de amostras para análise futura.
As descobertas não apenas oferecem uma visão sobre a história mineral de Marte, mas também ajudam a formar um arquivo mineralógico que poderá ser inestimável no retorno de amostras à Terra. As investigações continuam a reforçar a importância da cratera Jezero na busca por sinais de vida extraterrestre.
Fonte: (sci.news– Ciência & Descobertas)