San Antonio, Texas — InkDesign News — Pela primeira vez, cientistas observaram na natureza a prole híbrida de um gaio-azul e de um gaio-verde durante um estudo conduzido próximos a San Antonio, Texas. A descoberta foi publicada em setembro de 2024 na revista científica Ecology and Evolution, marcando um evento inédito no registro de aves híbridas decorrentes do encontro de duas espécies cujas áreas de habitação começaram a se sobrepor apenas nas últimas décadas.
O Contexto da Pesquisa
Gaio-azul (Cyanocitta cristata) e gaio-verde (Cyanocorax yncas) pertencem à família dos corvídeos, que inclui corvos e gralhas. Apesar dos nomes semelhantes, suas linhagens divergiram há aproximadamente sete milhões de anos e ambos ocupavam regiões bem distintas: o gaio-verde habitava áreas tropicais do México, América Central e sul do Texas, enquanto o gaio-azul era nativo da porção leste dos Estados Unidos. Mudanças climáticas e pressões antrópicas favoreceram o avanço do gaio-verde para o norte e empurraram o gaio-azul para oeste, proporcionando o atual encontro de ambos nas proximidades de San Antonio.
Resultados e Metodologia
O híbrido foi identificado em 2023 por meio de uma publicação em rede social de uma moradora local, permitindo ao pesquisador Brian Stokes, ecólogo da Universidade do Texas em Austin, realizar a captura e análise do animal. A ave apresentava plumagem azul, com marcas faciais semelhantes às do gaio-verde e era capaz de emitir vocalizações típicas das duas espécies. Uma amostra de sangue revelou, através de análise genética, que se tratava do filhote de uma fêmea de gaio-verde com um macho de gaio-azul. O espécime foi marcado com uma anilha para ser monitorado em estudos futuros.
“Acreditamos que este é o primeiro vertebrado observado a hibridizar porque ambas as espécies expandiram seu território em função, ao menos em parte, das mudanças climáticas.”
(“We think it’s the first observed vertebrate that’s hybridized as a result of two species both expanding their ranges due, at least in part, to climate change.”)— Brian Stokes, Ecólogo, Universidade do Texas em Austin
Avistamentos anteriores de híbridos na natureza não eram conhecidos, embora registros de cruzamento controlado entre as espécies datem da década de 1970 em ambientes de cativeiro. A análise comparativa indicou semelhanças morfológicas entre o novo híbrido e um exemplar taxidermizado no acervo do Fort Worth Museum of Science and History.
Implicações e Próximos Passos
A ocorrência desse híbrido revela a dinâmica desconhecida da hibridização entre aves silvestres e sugere que este fenômeno pode ser mais comum do que se supunha. “A hibridização provavelmente é muito mais comum no mundo natural do que os pesquisadores sabem, pois há enorme dificuldade em relatar esses eventos”, declarou Stokes.
(“Hybridization is probably way more common in the natural world than researchers know about because there’s just so much inability to report these things happening.”)
A presença do híbrido ressalta o impacto das alterações climáticas globais e da fragmentação de habitats naturais, que promovem novos encontros biológicos e podem provocar mudanças evolutivas inesperadas nas populações de aves. O retorno do mesmo híbrido ao local do avistamento original em junho de 2025 indica que esses fenômenos podem persistir, ainda que raramente observados.
Com pouca densidade populacional humana nas regiões de sobreposição, especialistas destacam que muitos híbridos podem permanecer desconhecidos. A continuidade da pesquisa com monitoramento de áreas de contato e aprimoramento de métodos de identificação genética poderá revelar a verdadeira frequência desses casos na natureza.
Em suma, o estudo pode ampliar a compreensão sobre os mecanismos de especiação, adaptação e as consequências evolutivas da modernidade e da crise climática para a ornitologia mundial.
Fonte: (Live Science – Ciência)
