
Yokohama — InkDesign News — Pesquisadores do Centro RIKEN de Ciências Médicas Integrativas (IMS), no Japão, liderados por Hiroshi Ohno, fizeram uma descoberta surpreendente publicada na revista científica Gut: fumar tabaco induz a produção de metabólitos que auxiliam bactérias da boca a colonizar o intestino grosso, beneficiando pacientes com colite ulcerativa, doença inflamatória crônica.
O Contexto da Pesquisa
As doenças inflamatórias intestinais, como a colite ulcerativa e a doença de Crohn, afetam milhões mundialmente. Embora ambas causem dor abdominal crônica, diarreia e perda de peso, suas causas e mecanismos inflamatórios são distintos. Há décadas, médicos observam o enigma: fumar agrava a doença de Crohn, mas parece proteger contra a colite ulcerativa — uma contradição que intrigava cientistas.
Sabendo que a imunidade intestinal depende, em parte, da microbiota, a equipe do RIKEN IMS buscou compreender se o efeito diferencial do tabagismo poderia ser explicado por mudanças nas populações bacterianas do intestino.
Resultados e Metodologia
Utilizando dados clínicos humanos e estudos experimentais em camundongos, os pesquisadores constataram que fumantes com colite ulcerativa apresentavam maior concentração de bactérias normalmente restritas à cavidade oral, como Streptococcus, na mucosa colônica. Tal fenômeno não foi observado em ex-fumantes. A investigação de metabólitos intestinais revelou que substâncias específicas, em especial a hidroquinona, eram mais abundantes nos fumantes. Nos modelos animais, a hidroquinona favoreceu a colonização de Streptococcus no intestino.
Em experimentos posteriores, dez cepas bacterianas isoladas da saliva de fumantes foram administradas a camundongos com modelos de colite ulcerativa e doença de Crohn. A transferência de Streptococcus mitis produziu efeitos semelhantes ao tabagismo: atenuou a inflamação na colite e agravou na doença de Crohn. O mecanismo identificado mostrou que S. mitis induz células Th1 no intestino, reduzindo inflamações mediadas por Th2 na colite, porém exacerbando a inflamação em Crohn — dependente de Th1.
Nossos resultados indicam a relocalização de bactérias da boca para o intestino, notadamente do gênero Streptococcus, e a resposta imune subsequente como mecanismo pelo qual fumar protege contra a colite ulcerativa.
(“Our results indicate the relocation of bacteria from the mouth to the gut, particularly those of the Streptococcus genus, and the subsequent immune response in the gut, is the mechanism through which smoking helps protect against the disease.”)— Hiroshi Ohno, Pesquisador, RIKEN IMS
Implicações e Próximos Passos
Os riscos do tabagismo para câncer, doenças cardíacas e outras enfermidades são amplamente reconhecidos e posicionam-se contra seu uso terapêutico. Entretanto, a pesquisa abre caminhos para tratamentos alternativos, como o emprego de prebióticos (como a hidroquinona) ou probióticos com Streptococcus mitis. Tais estratégias poderiam replicar os benefícios imunológicos observados em fumantes, sem os prejuízos à saúde global.
O tratamento direto com esse tipo de bactéria, ou indireto com hidroquinona, tende a imitar os efeitos benéficos do fumo, evitando todos os efeitos negativos.
(“Logically, direct treatment with this kind of bacteria, or indirect treatment with hydroquinone, is thus likely to mimic the beneficial effects of smoking but avoid all the negative effects.”)— Hiroshi Ohno, Pesquisador, RIKEN IMS
Especialistas preveem que ensaios clínicos futuros devem avaliar tanto a eficácia quanto a segurança de tais abordagens, visando a transpor os achados pré-clínicos para tratamentos eficazes e de baixo risco para pacientes com colite ulcerativa. O avanço poderá transformar paradigmas terapêuticos em doenças inflamatórias intestinais, reduzindo dependência de intervenções com efeitos colaterais severos.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)