Cientistas explicam ligação do álcool ao fígado gorduroso, mostra pesquisa

Rochester, Minnesota — InkDesign News — Pesquisadores da Mayo Clinic desvendaram um novo mecanismo que explica como o consumo excessivo de álcool contribui para o desenvolvimento da doença hepática gordurosa, condição que atinge mais de um terço dos norte-americanos. O estudo, recentemente publicado no Journal of Cell Biology, identifica enzimas e proteínas vitais envolvidas na progressão da doença.
O Contexto da Pesquisa
A doença hepática gordurosa, conhecida cientificamente como Doença Hepática Gordurosa Associada à Disfunção Metabólica (MASLD), representa um sério desafio à saúde pública, associando-se ao risco elevado de diabetes tipo 2 e câncer de fígado. Embora o impacto do álcool no fígado já fosse assunto de investigações anteriores, faltavam detalhes sobre os mecanismos moleculares específicos pelos quais o álcool excessivo agrava a doença.
Resultados e Metodologia
Conduzido por uma equipe da Mayo Clinic, o estudo se concentrou no papel do fígado como principal filtro do organismo. Os hepatócitos deste órgão desempenham a tarefa de processar, armazenar e reciclar substâncias, incluindo o armazenamento de gordura em gotículas lipídicas. O excesso de gotículas pode levar ao acúmulo patológico de gordura.
A pesquisa identificou a enzima valosin-containing protein (VCP) como elemento central nesse processo, associando-a ao controle da proteína HSD17β13 na superfície das gotículas lipídicas. Em indivíduos sem a doença, a VCP “mantém a proteína HSD17β13 sob controle para evitar a superacumulação de gordura nas células hepáticas”.
“We were surprised to see VCP removing a specific protein from the surface of the lipid droplet. When that particular protein called HSD17β13 accumulates, the fat content in liver cells balloons and contributes to fatty liver disease.”
(“Ficamos surpresos ao ver a VCP removendo uma proteína específica da superfície da gotícula lipídica. Quando essa proteína, chamada HSD17β13, se acumula, o conteúdo de gordura nas células do fígado aumenta drasticamente e contribui para a doença hepática gordurosa.”)— Mark McNiven, Ph.D., pesquisador sênior, Mayo Clinic
O álcool em excesso, segundo os resultados, quase elimina a VCP da superfície das gotículas lipídicas, permitindo o acúmulo de HSD17β13. A equipe ainda observou a atuação da VCP junto a proteínas chaperonas na entrega de proteínas danificadas ao lisossomo, onde são degradadas.
“It was astounding to see this. We tried several experiments to confirm what we were seeing, and every result indicated VCP directs the HSD17β13 protein from the lipid droplet to the lysosome.”
(“Foi surpreendente ver isso. Realizamos vários experimentos para confirmar o que estávamos observando, e todos os resultados indicaram que a VCP direciona a proteína HSD17β13 da gotícula lipídica ao lisossomo.”)— Sandhya Sen, Ph.D., pesquisadora, Mayo Clinic
Implicações e Próximos Passos
Os achados sugerem que a proteína HSD17β13 pode se tornar alvo de terapias inéditas para prevenir ou tratar a doença hepática gordurosa associada ao álcool. Segundo os autores, a pesquisa também pode ajudar a prever quais pacientes são mais vulneráveis aos efeitos nocivos do álcool, caso o sistema de reciclagem celular do fígado esteja comprometido.
A investigação é parte da iniciativa Precure, esforço da Mayo Clinic para criar ferramentas que antecipem e impeçam processos biológicos antes que se transformem em doenças graves.
No horizonte próximo, espera-se o desenvolvimento de novas terapias visando a regulação de proteínas e enzimas descritas no estudo, além do aprimoramento de métodos preditivos para o risco de doenças hepáticas em populações expostas ao álcool.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)