
Houston — InkDesign News — Um estudo liderado por pesquisadores da Rice University, nos Estados Unidos, revelou fortes evidências de que a Cratera Jezero em Marte passou por múltiplos episódios de atividade fluida — cada um deles criando condições potencialmente favoráveis à vida. Utilizando dados geoquímicos coletados pela sonda Perseverance da NASA e publicados no Journal of Geophysical Research: Planets, cientistas identificaram duas dezenas de minerais indicadores das intensas interações entre rochas vulcânicas e água líquida no planeta vermelho.
O Contexto da Pesquisa
As implicações da presença passada de água em Marte há tempos movimentam a comunidade planetária, estimulando buscas por sinais de vida pretérita. A Cratera Jezero foi escolhida como destino da missão Perseverance em razão dos indícios de que abrigou um antigo lago, um ambiente chave para processos biogeoquímicos. O atual estudo aprofunda a análise mineralógica dessas rochas, buscando decifrar as condições ambientais e químicas que ali predominaram, e preparando terreno para interpretações sobre a habitabilidade do planeta.
Resultados e Metodologia
Baseando-se na mais detalhada análise geoquímica já conduzida em outro planeta, pesquisadores usaram o algoritmo de Identificação Mineral por Estequiometria (MIST) para interpretar os dados do instrumento PIXL (Planetary Instrument for X-ray Lithochemistry), instalado na Perseverance. Este instrumento bombardeia rochas marcianas com raios X para revelar sua composição. Foram identificados 24 minerais diferentes, evidenciando que a região passou por três tipos de interação com fluidos — incluindo episódios com água altamente ácida e quente, águas neutras e moderadas, e finalmente condições alcalinas e frias.
Os minerais encontrados em Jezero através do MIST sustentam múltiplos episódios temporais, distintos de alteração fluida. Isso indica que houve várias ocasiões na história de Marte em que estas rochas vulcânicas interagiram com água líquida e, portanto, mais de uma oportunidade em que este local ofereceu ambientes potencialmente habitáveis à vida.
(“The minerals we find in Jezero using MIST support multiple, temporally distinct episodes of fluid alteration. […] more than one time when this location hosted environments potentially suitable for life.”)— Eleanor Moreland, Estudante de Pós-Graduação, Rice University
A primeira fase mineralógica indica episódios com fluidos quentes e ácidos, considerados menos habitáveis. Em seguida, minerais como minnesotaita e clinoptilolita foram associados a fluidos de pH neutro e temperatura moderada, favorecendo mais condições para a vida. Por fim, a detecção de sepiolita, ligada a ambientes alcalinos e frios, sugere um cenário amplamente propício à habitabilidade, presente em todos os compartimentos analisados pela sonda.
Essas condições quentes e ácidas seriam as mais desafiadoras para a vida.
(“These hot, acidic conditions would be the most challenging for life.”)— Kirsten Siebach, Professora Assistente de Ciências da Terra, Rice University
Para contornar limitações técnicas da análise mineralógica em Marte, a equipe desenvolveu um modelo de incerteza estatística capaz de atribuir níveis de confiança a cada identificação mineral.
Implicações e Próximos Passos
Os resultados detalham um passado marciano dinâmico e reforçam hipóteses sobre períodos intermitentes de condições habitáveis. O levantamento mineralógico, pioneiramente compilado pelos três primeiros anos da missão Perseverance, cria um arquivo geológico de Jezero que pode ser fundamental caso amostras sejam retornadas à Terra em futuras missões.
O estudo também provê contexto essencial para a interpretação de potenciais biossinaturas, como as recém-detectadas no setor conhecido como Sapphire Canyon, ampliando a compreensão sobre a distribuição dos ambientes habitáveis na cratera.
A pesquisa foi financiada por bolsas científicas do programa Mars 2020, pelo JPL e pela equipe PIXL da NASA, além de outros colaboradores institucionais.
À medida que a missão Perseverance prossegue em sua campanha de amostragem, cada novo mineral identificado refina a estratégia científica para maximizar as chances de detectar vestígios biológicos e lançar novas luzes sobre a evolução atmosférica e geoquímica marciana.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)