Pesquisa revela que agricultores da Idade do Bronze priorizavam vinho

Tel Aviv — InkDesign News — Uma pesquisa publicada em 17 de setembro na revista PLOS One revela que civilizações do Crescente Fértil priorizavam a produção de uvas, mesmo sob crises climáticas, entre a Idade do Bronze (c. 3.500 a.C.) e a Idade do Ferro (c. 1.200 a.C.). O estudo utilizou amostras arqueobotânicas de oliveira e videira em diversos sítios do Levante e norte da Mesopotâmia.
O Contexto da Pesquisa
A domesticação e o cultivo de uvas e azeitonas são práticas documentadas desde o início da agricultura no Oriente Médio há cerca de 10 mil anos. Pesquisas anteriores concentraram-se predominantemente na oliveira como cultura de interesse econômico, sobretudo na região sul do Levante, atual Israel, Palestina, Jordânia e Líbano. No entanto, lacunas sobre manejo e decisões agrícolas em contextos climáticos adversos permaneciam. O novo estudo expandiu a investigação para diferentes zonas climáticas e demostra como sociedades antigas alocavam, estrategicamente, seus recursos agrícolas.
Resultados e Metodologia
Os cientistas analisaram mais de 1.500 amostras de madeira e sementes carbonizadas de oliveira (Olea europaea) e videira (Vitis vinifera), coletadas em sítios arqueológicos do Levante. Por meio da razão de isótopos de carbono estáveis, reconstruíram padrões de disponibilidade hídrica durante o crescimento das plantas e correlacionaram esses valores com registros climáticos do mesmo período.
Durante a Idade do Bronze, a análise constatou que o estresse hídrico acompanhava variações sazonais naturais. Já em períodos posteriores, verificou-se maior variabilidade nas condições de água, apontando para episódios de seca acentuada. Nessas épocas, evidências de irrigação intensa, inclusive em zonas pouco favoráveis, reforçam uma priorização da viticultura.
“Vários pesquisadores demonstraram períodos de instabilidade no cultivo de azeitonas e uvas no Mediterrâneo Oriental, desde ao menos a Idade do Bronze Inicial.”
(“Various researchers have demonstrated periods of instability in the cultivation of olives and grapes in the eastern Mediterranean, dating back to at least the Early Bronze Age.”)— Equipe de autores, artigo em PLOS One
Os dados sugerem que, diante da escassez hídrica, manter a produção de vinho tinha papel estratégico, social e econômico.
“Isso indica um compromisso maior com a viticultura do que com outras culturas, como a oliveira.”
(“[It] indicates a stronger commitment to viticulture compared to other crops such as olives.”)— Comunicado dos autores sobre a pesquisa
Implicações e Próximos Passos
O estudo evidencia decisões agrícolas sofisticadas há quase 4 mil anos, reforçando que respostas à mudança climática e à gestão de recursos são questões históricas para a humanidade. Os resultados sugerem que antigas sociedades enxergavam o vinho não apenas como alimento, mas como ativo cultural e econômico essencial, influenciando práticas como técnicas avançadas de irrigação.
As descobertas abrem caminho para revisões sobre dependência agrícola de culturas específicas e estratégias de adaptação às mudanças ambientais. Pesquisadores indicam que novos estudos deverão expandir o uso de isótopos para outras regiões e produtos agrícolas, aprimorando a compreensão sobre resiliência agrícola no passado e no presente.
A pesquisa reforça como o estudo de vestígios arqueológicos pode dirigir futuras estratégias de manejo agrícola frente à intensificação das mudanças climáticas, pautando ações tanto para arqueólogos quanto para especialistas em segurança alimentar e sustentabilidade agrícola.
Fonte: (Popular Science – Ciência)