
Lund, Suécia — InkDesign News — Um estudo conduzido na Universidade de Lund revelou que até mesmo exposições breves à poluição do ar podem modificar a estrutura da placenta e induzir um estado inflamatório no órgão. A pesquisa, publicada em março de 2024 no Journal of Environmental Sciences, destaca como a poluição atmosférica pode impactar a saúde materno-fetal de maneira mais aguda do que anteriormente reconhecido.
O Contexto da Pesquisa
Já se sabia que partículas presentes na poluição do ar podem atingir a placenta e serem absorvidas por células imunológicas existentes naquele tecido. Obras anteriores, como destacou o professor Jonathan Grigg, do Queen Mary University of London, reforçavam que “há poucas dúvidas de que partículas entram na corrente sanguínea, acumulando-se ou sendo levadas para a placenta e captadas por células placentárias” (“There’s no doubt that particles are entering the bloodstream and then accumulating, or getting to, the placenta and being taken up by placental cells.”).
— Jonathan Grigg, Professor de Medicina Respiratória Pediátrica e Ambiental, Queen Mary University of London
Estudos epidemiológicos já haviam apontado conexões entre a exposição a poluentes durante a gestação e o risco aumentado de pré-eclâmpsia — condição associada à má oxigenação da placenta e potencial disfunção do órgão, influenciando a saúde do feto e da gestante.
Resultados e Metodologia
A equipe de Lund empregou o método “ex vivo dual placental perfusion”, utilizando 13 placentas de gestações a termo doadas voluntariamente, conectando-as a um sistema artificial que simulava os ambientes uterinos materno e fetal por cerca de seis horas. Assim, foi possível monitorar metabolismo, homeostase e comportamento das células imunes em tempo real, sob condições controladas.
Seis placentas atuaram como controle; outras seis foram expostas entre 30 minutos e cinco horas a amostras de poluição atmosférica, especificamente material particulado fino (PM2.5) coletado em Malmö, cidade com tráfego veicular significativo. Os resultados revelaram alterações rápidas na organização do colágeno — proteína estrutural essencial — e uma ativação inflamatória pronunciada nas células imunes denominadas Hofbauer. Após apenas uma hora de exposição, houve aumento da produção de hCG, hormônio associado ao risco de pré-eclâmpsia em níveis elevados durante o segundo trimestre.
“Você não pode realmente expor mulheres à poluição do ar como experimento,” (“You can’t really expose women to air pollution as an experiment,”) explicou Dr. Stefan Hansson, coautor do trabalho.
— Stefan Hansson, Professor de Obstetrícia e Ginecologia, Universidade de Lund
Implicações e Próximos Passos
Os achados sugerem que a inflamação observada poderia estar relacionada ao desenvolvimento de pré-eclâmpsia em regiões altamente poluídas, hipótese que precisa ainda ser testada em ensaios clínicos. Os autores também alertam para limitações do modelo: a exposição foi pontual e as placentas analisadas, de gestações a termo, não cobrindo toda a gestação.
Segundo Grigg, a intervenção mais efetiva para a saúde pública seria a redução dos níveis de material particulado no ar.
“Devemos reduzir a exposição ao PM2.5; não é necessário mais informação para justificar essa ação”
(“We should be reducing exposure to PM2.5; you don’t need any more information about that [to justify taking action]”)— Jonathan Grigg, Queen Mary University of London
A pesquisa aponta a relevância de monitorar não apenas os impactos de longo prazo da poluição atmosférica na saúde materna, mas também seus efeitos imediatos e potenciais intervenções médicas.
No horizonte, intensifica-se a necessidade de políticas públicas que visem a diminuição dos níveis de poluição ambiental, enquanto a ciência busca alternativas terapêuticas para mitigar os danos inflamatórios à placenta — avanço que pode ter reflexos diretos na prevenção de complicações gestacionais severas.
Fonte: (Live Science – Ciência)